terça-feira, 21 de outubro de 2008

Entrevista a Ana Free

Ana Free é o mais recente talento musical descoberto no Youtube. A jovem cantora portuguesa de 21 anos, nasceu em Lisboa, viveu em Cascais, e vive actualmente no Reino Unido.
Aos nove anos aprendeu com o seu pai os acordes básicos de viola. Aos onze anos compôs a sua primeira canção completa. Em 2007 colocou o seu primeiro vídeo no site Youtube, e em pouco tempo tornou-se um dos músicos mais subscritos de sempre (quase 29000 subrições até ao momento). Actualmente conta com 62 vídeos na sua página do Youtube, e a sua página naquele site conta com quase um milhão e meio de visitas.
Esta Versão dos Factos teve o privilégio de poder entrevistar a Ana e hoje damos a conhecer mais um pouco da Ana Free.
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Desde que colocaste o teu primeiro vídeo no Youtube, tens tido uma imensa popularidade. Esperavas esta reacção aos teus vídeos?
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Sabia que não era impossível e não o teria feito sem ter noção das consequências! Mas à primeira não estava a espera que tivesse tantas visitas!
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O que sentes perante esta receptividade do público à tua música?
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Estou super grata como é natural. Tenho uma sorte enorme porque consigo atingir e comunicar com pessoas do outro lado do mundo através das minhas melodias e a minha música. Tenho muito que agradecer aos fãs!
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Pareces querer ter contacto com os teus admiradores. Inclusivamente encorajas os teus admiradores a dizerem o que pensam do teu trabalho. Isso tem acontecido? Tens tido muito feedback dos teus admiradores?
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Tenho bastante feedback, o que é bom porque assim consigo melhorar o meu trabalho. Gosto que ter contacto com os meus fãs, gosto de saber o que eles acham.
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Uma vez que os teus admiradores te conhecem, sobretudo, do site Youtube, presumo que a tua música seja conhecida neste momento um pouco por todos os cantos do planeta. Tens sido contactada por admiradores de vários países?
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Sim! É fantástico. A distância que percorrem as minhas palavras, as minhas melodias, os meus vídeos é inacreditável! É uma das melhores partes do meu trabalho... Tantas culturas diferentes unidas.
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É certo que é óptimo vermos o nosso trabalho reconhecido. Consideras, no entanto, que a popularidade tem os seus lados menos bons?
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Depende da perspectiva. A popularidade é boa porque assim uma pessoa tem mais recursos e poderes para mudar o mundo para o melhor. Mas a popularidade também pode reflectir mal a realidade. É preciso distinguir as verdades dos rumores e das mentiras.
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Recentemente acabaste também a tua licenciatura em economia. Como tem sido esta fase da tua vida em que pareces estar a realizar os teus planos com bastante sucesso?
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Tem sido bom... Tenho andado feliz e a sentir-me uma pessoa mais completa.
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Num futuro breve, onde e quando te poderemos encontrar a actuar?
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Dia 18 de Outubro vou fazer parte do Festival Termómetro. A minha actuação não vai ser muito comprida mas lá estarei.
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Qual é o palco ou os palcos em que mais gostarias de cantar?
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Adorava tocar no nosso pavilhão atlântico! E em Times Square!
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Se um dia, daqui a alguns anos, puderes dar um concerto convidando outros músicos para tocarem temas contigo, quem gostarias de convidar?
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Convidava sem dúvida o Eric Clapton e o John Mayer. Convidava a Pink e a Britney Spears. Depois convidava o Rui Veloso e a Marisa. Todos nos juntos no palco. Imagina só o resultado!
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Post-Scriptum

Como autor deste blog quero agradecer a Ana Free a sua disponibilidade para conceder esta entrevista e a sua imensa simpatia.
Peço desculpa pelo facto de só ter conseguido publicar hoje esta entrevista, não tendo conseguido ser tão célere como pretendia (e havia prometido), por motivos pessoais, sendo que com isso prejudiquei esta entrevista, onde se lê que o próximo concerto será dia 18 de Outubro de 2008, data que já passou. Disponibilizo-me, no entanto, para publicitar futuras datas de concertos/actuações da Ana Free, de modo a ainda tentar cumprir a minha promessa (ainda que possam sempre encontrar os próximos concertos da Ana Free no MySpace da Ana - hiperligação constante no fim deste post).
De resto, cabe desejar as maiores felicidades à nossa jovem cantora, e muito sucesso no futuro.
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segunda-feira, 6 de outubro de 2008

O conto

- Sim… Foi muito meu amigo, é verdade… As coisas já não estavam bem, e eu era o único que não via…
- É verdade… Bebias de mais… Bebeste de mais tempo a mais… E sabes que é o suficiente para destruir uma vida.
- E ele teve a coragem de mo dizer com as letras todas, várias vezes. Mas cada vez que mo dizia eu não queria ouvir. E enquanto fui deixando a minha vida cair aos bocados, enquanto fui perdendo todos os que me rodeavam, todas as pessoas de quem eu realmente gostava e que realmente gostavam de mim, por mais um copo de uma merda qualquer, nunca lhe dei ouvidos… Fiz sofrer de mais toda a gente, e a ele especialmente…
- O teu pai sofreu bastante sem dúvida. Mas apesar de tudo, está bastante feliz por te teres recuperado. Não to diz, mas está.
- Nem me olha nos olhos. Não é capaz… Mas eu compreendo-o, Só eu e ele sabemos os espectáculos que o fiz assistir. Os martírios indescritíveis…
- Tudo se há-de recompor…
- Pode ser que um dia nos voltemos a falar. Gostava muito. Talvez se um dia tiver um filho ele o queira conhecer…
- Acho que quereria…
- Sabes… A última vez que falámos, quando me obrigou a ir para a clínica, quando me levou para lá à força, mesmo já tendo eu mais força que ele… contou-me uma história, um conto popular, uma lenga-lenga, ou uma fábula não sei… Que me ensinou bastante, e que ainda hoje me faz rir… Lembras-te que quem me pagava um copo sempre que podia era o marido da minha ex-mulher?...
- Lembro-me. Por mais bêbado que estivesses…
- Pois bem… Então a caminho da clínica o meu pai disse-me: Um dia um gato abriu uma gaiola de um pássaro, para o comer. O pássaro fugiu, mas estava pouco habituado a voar, e o mais que conseguiu foi chegar ao pé de uma vaca que estava a pastar no prado ao lado da casa. O gato corria para o apanhar, e o pássaro pediu à vaca que o escondesse para o gato não o comer. A vaca cagou-lhe literalmente em cima. O pássaro aflito começou a piar… O gato chegou, apanhou o pássaro, sacudiu-o, e comeu o pássaro.
- E o que tem essa história de especial?
- Três lições de moral…. A primeira é: Nem sempre quem te põe na merda te quer mal. A segunda é: Nem sempre quem te tira da merda te quer bem. E a terceira é: Quando estiveres na merda não pies…

Ambos os amigos riram.

- Hás-de voltar a falar com o teu pai… Estás a ir bem neste momento. Sê forte…

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Futebóis do diabo

Infelizmente, tenho-me mantido afastado deste meu espaço, uma vez que tenho andado entrincheirado em livros a tentar acabar o curso. Falta agora apenas uma cadeira e tenho mesmo de dar o litro, pelo que este meu canto tem saído prejudicado.
Mas a vontade de escrever volta e meia mete-se a frente de tudo o que tenho para fazer, e lá consigo eu trazer qualquer coisa nova,
Hoje trago mais umas versões que não lembram ao diabo que queria já há algum tempo partilhar convosco. Trata-se de histórias curtas de futebol (desporto que gosto mais de praticar do que de assistir), que amigos me contaram e que achei dignas de registo.
É normal que goste de jogar futebol… Afinal, como acontece em qualquer desporto, permite-me passar uma hora sem pensar em mais nada, e a dedicar-me a um objectivo de equipa. Mas ao que parece, razões genéticas também estão na origem deste meu gosto pelo futebol. Conta-se na minha família que o meu avô jogou no clube da terrinha onde morava, defendendo heroicamente as cores da camisola daquele humilde clube. Recordam alguns que houve uma época em que jogou a titular e passou nove jogos sem tocar na bola (também não há memória de a bola lhe ter batido nesses jogos).
Parecendo impossível, não é mais estranho do que um jogador, salvo erro de um clube do centro, que ao converter uma grande penalidade acertou numa bandeirola de canto.
Conta-se que também nesse clube, um guarda-redes adormeceu encostado ao poste, num jogo que se seguiu a uma noitada de copos, em que, ao que se diz, só se jogava no meio campo do adversário.
Ainda esse clube, haveria, anos mais tarde, de ter um jogador, que quando tinha a bola nos pés e os amigos o chamavam das bancadas, chutava para onde quer que estivesse virado, estivesse ele virado para o Porto ou para Fiães (localidade cuja existência suscita dúvidas) lá ia a bola.
Aproveito também para contar a história de um amigo que jogou pelo clube de Castanheira de Pêra. Um defesa exímio que marcou o melhor golo da sua carreira futebolística na própria baliza. O guarda-redes adversário mandou um charuto para a frente, ele veio a acompanhar a bola e a cobrir o avançado adversário e assim que ela voltou a cair no campo pelado ele espetou-lhe outro charuto conseguindo um tento de belo efeito, um chapéu ao guarda-redes da sua equipa. No balneário, um colega defesa repreendeu-o e disse-lhe que ele lhe podia ter passado a bola. Na segunda parte, esse colega marcou dois auto-golos. Desconheço o resultado final deste jogo…
Há menos tempo, um árbitro de primeiro escalão mostrou dois cartões vermelhos ao mesmo jogador, não se tendo apercebido de que o jogador continuou em campo depois de lhe mostrar o primeiro cartão vermelho.
Enfim… O futebol tem destas coisas que não lembram ao Diabo…



sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Tons que tocam

Intérprete: Ana Moura

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Masterpiece (Fascículo IV)

Um som agudo invadiu a sala acompanhado pelo ruído de uma insistente vibração. A personagem acordou estremunhada. Olhou em volta e viu o telemóvel de Afonso em cima da mesa que se encontrava encostada ao sofá, o ecrã piscava e o telemóvel girava compassadamente sobre si mesmo à medida que ia vibrando. Sentou-se no sofá e pegou no pequeno telemóvel. No ecrã viu que se tratava de uma chamada. Depois olhou para o corredor que dava para o quarto de Afonso, mas Afonso não parecia ter acordado. Acendeu o candeeiro e levantou-se. Esfregou os olhos. O telemóvel deixou de tocar. A personagem olhou em volta procurando algum relógio ou aparelho onde pudesse ver as horas. Encontrou na parede atrás do sofá um relógio de cuco que marcava cinco horas e vinte e três minutos da madrugada. Logo de seguida o telemóvel recomeçou a tocar. Olhou para o ecrã que piscava e leu “chamada: Eduarda”. Voltou a sentar-se. Pousou o telemóvel sobre a mesa, deitou-se novamente e ficou à espera de ver Afonso surgir no fundo do corredor. Afonso não surgia. Nem sequer se ouvia a sua cama fazer qualquer ruído indicando que Afonso se tivesse levantado, ou apenas mexido. A vibração do telemóvel e o som agudo do toque incomodavam um silêncio puro. Pouco depois o telemóvel voltou a ficar imóvel devolvendo a quietude à madrugada. A personagem voltou a olhar para ele. Passou as mãos pelo cabelo comprido, depois colocou os cotovelos sobre joelhos e escondeu a cara nas mãos, tentando guardar o sono e resistir à possibilidade de despertar. Depois pensou… O que devo fazer? Ele não acorda… Mas quem será que lhe está a ligar a uma hora destas?... Será que aconteceu alguma coisa? Devo acordá-lo? Nem sei se ele me ouvirá….
Logo de seguida o telemóvel voltou a rodopiar sobre a mesa. A personagem levantou-se… Pensou: Tenho de tentar acordá-lo, e dirigiu-se para o corredor onde ficava o quarto de Afonso. O quarto de Afonso ficava logo na primeira porta à direita. A personagem abriu a porta com cuidado, encostou-se à ombreira e ficou um breve momento a olhar para Afonso que dormia profundamente. O telemóvel continuava a tocar. Então a personagem avançou lentamente na direcção de Afonso, sentou-se ao seu lado num movimento suave, e o telemóvel voltou a calar-se. Ficou então de novo sem saber se devia ou não acordar aquele homem que dormia como uma criança exausta depois de um dia cheio de corridas e aventuras sonhadas. Hesitou. Decidiu não o acordar. E ficou mais um pouco a olhar para Afonso. Que calma que aquele respirar profundo de quem dorme como se o mundo tivesse parado, suspenso algures no Universo, transmitia. Mas pouco depois o toque do telemóvel regressou e quebrou de novo a paz completa daquele momento. A personagem decidiu-se. “Tem de ser”, pensou. Colocou a mão suavemente no ombro de Afonso, moveu a mão devagar, e disse-lhe ao ouvido: “Acorda, o teu telemóvel está a tocar…”. Afonso não se mexeu. Pronunciou apenas um “huuum” ensonado. A personagem insistiu… “Acorda…” Afonso respondeu: Diz Leonor. Mas não abriu os olhos. Estaria a sonhar? Perguntou-se a personagem. “O teu telemóvel… está a tocar…” Afonso abriu os olhos. A personagem sorriu embora ele não a tenha visto. Então reconheceu o toque do seu telemóvel. Fechou os olhos, voltou a abri-los. O telemóvel voltou a ficar em silêncio. Afonso pensou: “Quem será a esta hora?”. Olhou para o despertador que tinha em cima da mesa-de-cabeceira. “São quase cinco e meia… Quem é que me estará a ligar a esta hora… Que raio…”. Então acendeu o candeeiro, sentou-se na cama para ganhar coragem para se levantar. A personagem olhava para ele, sentada no rebordo da cama, e agradecia o facto de não poder ser vista. Era engraçado ser invisível, Afonso não dar pela sua presença.
O telemóvel voltou a tocar. Afonso suspirou, finalmente recuperou as forças e saiu da cama pelo lado contrário ao que a personagem se encontrava sentada e dirigiu-se para a sala. A personagem estava intrigada. No entanto, deixou-se cair e ficou deitada um segundo na cama de Afonso, com a cabeça sobre a sua almofada. Ouviu o telemóvel calar-se de novo, e Afonso dizer: “Sim Eduarda…”, e de seguida ouviu os passos de Afonso que voltava para o quarto. A personagem não se mexeu.
Do outro lado do telefone Eduarda esforçava-se para pronunciar cada palavra que dizia. Chorava compulsivamente, e Afonso tentava perceber o que Eduarda lhe queria dizer. “Calma Eduarda… Diz-me o que se passa…” disse Afonso calmamente. “O Jorge, Afonso… O Jorge morreu…” disse Eduarda do outro lado. Afonso sentiu as forças fugirem-lhe do corpo de repente. Caiu sentado na cama. Depois respondeu: “Não percebi Eduarda… O Jorge o quê?...”. “Morreu Afonso, o Jorge acabou de morrer…” – disse Eduarda com dificuldades. Afonso não conseguiu dizer o que quer que fosse. Logo de seguida, ouviu Eduarda dizer: “Estou no Hospital de Santa Maria, por favor vem ter comigo…”. “Vou imediatamente” - respondeu Afonso sem pensar.
A personagem apercebeu-se que Afonso tinha ficado perturbado durante a chamada. Afonso assim que desligou o telemóvel deixou-se cair para trás, incrédulo, branco, sem reacção… Não acreditava no que tinha acabado de ouvir, não queria acreditar que estivesse acordado…
A personagem levantou-se, procurou a cozinha, no armário encontrou copos, encheu um copo de água e trouxe a Afonso. Afonso não reparou que um copo tinha viajado no ar, da cozinha à sua mesa-de-cabeceira. Não se mexia. A sua respiração estava agitada, tinha os olhos muito abertos, e cheios de água, fixos no tecto do seu quarto.
A personagem ficou um momento a olhar para ele preocupada. Não sabia o que fazer. Depois sentou-se ao seu lado, virada para ele. Finalmente, não resistiu e chamou-o:
- Afonso… - Afonso ouviu a personagem mas não respondeu. Estava atónito… A personagem insistiu:
- Afonso… - Afonso fechou os olhos e pouco depois respondeu;
- Diz Leonor… - A personagem ficou surpreendida por Afonso lhe ter chamado Leonor. Desta vez não havia dúvidas, ele já não estava a dormir, não podia estar a sonhar, Leonor era o nome que ele decidira dar-lhe, sentiu-se feliz, mas não teve tempo para gozar esse sentimento. Estava demasiado preocupada.
- Está tudo bem?...
- Leonor… O meu irmão morreu. Era a minha cunhada…. – E dos olhos de Afonso começaram a correr lágrimas. – A personagem pousou a mão sobre a mão de Afonso. Ambos ficaram um pouco em silêncio.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Feeling Lazy




O Mundo e Mugabe

Já é bem conhecida a situação social e política que o Zimbabué vive desde alguns meses antes das eleições presidenciais que tiveram lugar este ano, mas não me parece de mais contar esta história da minha perspectiva n’esta versão dos factos.
A personagem principal desta história é um vilão, Robert Mugabe, que governa o país há 28 anos, pela única forma de se governar um país durante tanto tempo, através de uma ditadura.
Entretanto surgiu uma personagem que desempenha o papel de salvador de um país, e que trouxe a esperança da sua libertação, pela pessoa de Morgan Tsvangirai, tendo este ganho a primeira volta das eleições presidenciais pelo MDC (Movimento pela Mudança Democrática – princípal partido da oposição).
No entanto, entre a realização da primeira e da segunda volta das eleições, Mugabe, à cautela, trocidou (em muitos casos literalmente, recorde-se que durante este período terão sido assassinados 122 militantes do MDC) a oposição. Mandou torturar e matar apoiantes e militantes do MDC, e o exército e as mílicias daquele país cumpriram as ordens que pelo terror que criaram conseguiram levar Morgan Tsvangirai a desistir das eleições, não só por receio e para proteger os seus, mas também para denunciar claramente a ilegitimidade daquelas eleições ao Mundo.
Mugabe esfregou as mãos de contente e o Mundo avisou-o de que não aceitaria o resultado daquelas eleições, pelo que não reconheceria a sua legitimidade como presidente daquele país. A comunidade internacional pressionou fortemente o presidente ditador, como todos assistimos, e Mugabe, de tão pressionado que andou deve ter andado perto da mais profunda depressão...
No país manda ele, e dispõe inclusivamente sobre quem merece viver e quem não merece outra sorte que a morte, discreta, como se quer, e tanto quanto se consiga, mas cruel o suficiente para dar o exemplo. Dispõe igualmente sobre como devem pensar aqueles a quem ele permite viver e incumbe, volta e meia, o exército de explicar ou relembrar às populações (pelas formas e estratégias conhecidas) de que forma devem pensar, ou onde por a cruz no boletim de voto, como se viu, entre outras explicações que o energúmeno povo volta e meia precisa para permitir que um país ande para diante.
E a comunidade internacional, essa suma entidade que assume a hercúlea tarefa de zelar pelo bem maior de todo o mundo em geral, e de cada país em particular, fez o seu papel. E “papel” foi uma palavra bem escolhida, uma vez que se estamos a falar do teatro internacional e das suas personagens. Por um lado, tem de defender os Direitos Humanos que tão bem soube proclamar, sob pena de haver prejuízo para a sua imagem, dadas as constantes violações que lhes são feitas, ainda por cima, registadas por câmaras de televisão que, para o bem e para o mal, são os olhos do Mundo. Assim, não pôde a comunidade internacional permanecer complacente, com uma imagem serena, e dizer ao Mundo que se deixe de ingenuidades e utopias, existem sim Direitos Humanos, mas estes são, ainda, apenas, direitos do Homem do primeiro mundo, chamámos-lhe Declaração Universal porque alguém achou mais pomposo. Não… Não pode fazer isto, a política também tem os seus impossíveis. Tem de se ver uma atitude de repulsa por parte dos líderes mundiais, como se viu, e convém até que essas imagens ocupem mais espaço nos telejornais do que o linchamento e o funeral dos apoiantes do MDC, das vítimas de Mugabe, é que como é sabido, os olhos do Mundo também são impressionáveis e não toleram olhar com demasiada atenção, nem durante imoderado tempo para obscenidades e desgraças destas, preferindo, como acontece determinadas vezes, focar-se antes, como subterfúgio, em hipocrisias e boas intenções, das quais, não devemos esquecer, também o Diabo está cheio.
Então lá se tomaram medidas, porque os líderes mundiais são homens de acção. Decidiram não reconhecer a legitimidade de um dirigente de um Estado a quem ninguém (excepto, os países africanos, uma vez que são seus vizinhos e podem sofrer consequências a vários níveis da crise do Zimbabué) reconhece qualquer importância no panorama político-económico mundial, ainda que o homem, o vil ditador, continue a pôr e dispor conforme quer no país que governa há 28 anos, e cuja Administração, ao que parece, coube ao Diabo, quando Deus e o Satanás repartiram os países a fim de definirem que países ficariam sob sua Administração respectivamente (segundo parece, Deus ficou responsável por um maior número de países situados no norte do Mundo, e o Diabo com um maior número de países no sul do Mundo, mas estas são considerações que aqui não cabe desenvolver).
De qualquer forma, podia acontecer que os líderes mundiais levantassem mais a voz, uma vez que estas questões lhes tiram o sono, e uma pessoa que não durma sofre por norma de uma dose de irritação mais elevada, e impusessem ao Zimbabué algumas sanções económicas durante algum tempo, visando fragilizar a posição do ditador. Contudo, não é líquido que isto aconteça. A questão cairá no esquecimento dentro em breve, se é que não caiu já, e é incontestável a enorme dificuldade de saber se não se prejudica com estas medidas mais o povo do que o regime e o ditador, que é como quem diz, se não paga mais uma vez o justo pelo ditador.
Quanto a enviar uma força armada internacional de paz por todos os motivos e mais alguns não foi uma hipótese colocada em cima da mesa. Quanto a mim, ainda bem, dado que uma boa decisão pode ser uma má decisão quando tomada pelos motivos errados.
A meu ver, não encontrou a comunidade internacional, interesses que justifiquem uma intervenção militar de paz, o que parece um contra senso mas é verdade, uma vez que as forças de paz são forças militares, e doutra maneira não poderia ser, pois do lado dos vilões há sempre armas quanto baste, ou muitos bolsos não andariam a transbordar de dinheiro (mas deixemos estas questões laterais), e como forças militares são demasiado dispendiosas tendo em conta o fim a que se destinariam.
O Zimbabué não terá muito para oferecer a quem o libertar, e o libertador não encontrará com o que se pagar da sua meritória e altruísta intervenção.
Há é certo uma democracia por implantar, mas essa servirá apenas aqueles que através dela poderem viver e votar livremente (e esperemos que mais livremente que os Irlandeses para quem haverá provavelmente uma segunda volta, de modo a que, depois de reflectirem, possam livremente votar no Sim ao Tratado de Lisboa, como a diligente Europa lhes está a tentar ensinar).
Quanto a mim, também pouco mais há a fazer do que deixar o país arder como inferno em que se tornou… Sei que é uma opinião que parece despropositada, mas a verdade é que defendo que se não é admissível a imposição de uma ditadura a um povo, também não acho que seja desejável que a democracia seja imposta por uma comunidade internacional que, segundo penso, não tem qualquer legitimidade para interferir no futuro de um país (como não tinha no Iraque, entre outros exemplos em que o nosso tempo é rico, mas nesses casos houve interesses político-económicos que sustentaram o gesto que não tem preço de oferecer a uma nação a democracia).
Não gostava de ser mal interpretado e de passar a ideia de que deve o povo do Zimbabué ser votado ao abandono e deixado à mercê de Mugabe. O que penso é que do mal das ditaduras devem ser os próprios povos por elas subjugados a libertarem-se. É, em minha humilde opinião, um processo de crescimento de um país. É o povo que tem que dizer não à ditadura, é o povo que tem que derrotar Mugabe (se não o fizer, entretanto o fim dos seus dias também chegará). Terão de nascer revolucionários, novas correntes de pensamento, gente de convicções, mártires, companheiros, combatentes da opressão, soldados civis que se disponham a lutar por um futuro melhor, ainda que o preço dessa luta possa ser a própria vida, gente de esperança, generais sem medo, e gente rara como esta, para que o Zimbabué se liberte e não deva a sua libertação a mais ninguém que a si mesmo, ao contrário do que acontece com o agora “democrático, pacifico e estável” Iraque.
Entretanto projectam-se acordos para que o agora generoso ditador possa delegar o Governo ao salvador Morgan Tsvangirai, mas esses acordos têm falhado. O ditador pretende não ser julgado pelos seus crimes, e provavelmente conseguirá escapar às malhas da justiça, mas como não estou a par dos últimos desenvolvimentos mais não posso contar. Outro dia, talvez, contarei o resto…

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Entrevista: Francisco Vaz Fernandes director da revista Parq

Como nasceu a ideia de criar a Parq?
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Nasceu de condições adversas. Basicamente a equipa de trabalho da Parq saiu da Dif, que eu fundei e dirigi durante cinco anos, que ao longo do tempo tornou-se uma experiência negativa porque nos sentimos roubados e enganados. Daí que a equipa que inclui uma rede de colaboradores fiéis tenham querido continuar este projecto original tomando um outro caminho. Já tínhamos um espaço muito próprio na história na área das revistas independentes, estamos a actualizar-nos segundo novas necessidades dos leitores, acreditamos que será mais um marco no nosso percurso.
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Como descreverias o trabalho que desenvolveram até agora, como tem sido concretizar o vosso projecto?
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Preferia dar uma explicação poética que faz sentido para toda a equipa. A Parq é uma revista que procura uma nova luminosidade e leveza que dê sentido às nossas vidas e nos liberte de fardos, para que sejamos cada vez mais nós. Esse é um nós “português” a caminho da nossa essência e da particularidade com que olhamos o mundo. Procurando o nosso lugar no mundo, admitimos numa visão do sul com relações privilegiadas à cultura Ibérica, mediterrânica, africana e brasileira.
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Têm tido feedback por parte dos leitores da Parq?
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Temos bastantes. Ao início bastante dispares. Confesso que nos ajudaram bastante a moldar e consolidar o projecto. Queriam uma revista nova e só tivemos que seguir as suas exigências de forma a estarmos mais perto das suas necessidades.
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Podemos falar numa ideologia Parq, numa Parqology, isto é, em num conjunto de novas ideias com o cunho Parq? Se sim, como se caracteriza essa ideologia?
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Novas ideias não diria, mas provavelmente um perfil de ideias avulsas, ou de ideias de vida que tentamos amarrar para tornar este projecto mais singular. Na verdade queremos falar das nossas vidas e de outras pessoas que são iguais à vida dos nossos leitores. Estamos igualmente preocupados com o nosso futuro e acreditamos que com um pouco de criatividade e motivação vamos chegar a qualquer lado. Entretanto vamo-nos divertindo para aligeirar o peso das nossas vidas. A vida em espaços públicos, nomeadamente parques verdes e troca de ideias parece-nos a combinação perfeita para esta década. É preciso requalificar o espaço público para que seja de todos.
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A Parq divide-se por secções: Real People, You Must, Soundstation, Viewpoint, Central Parq, Moda e Parq Here. O que podemos encontrar em cada uma destas secções?
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São secções que nos ajudam a organizar os conteúdos. Na verdade, procuramos ser uma revista diferente, sem umcerto carácter de ilusionismo. Gostamos de um certo realismo, daí que procuramos uma certa proximidade com os entrevistados. Também procuramos ter textos desenvolvidos com um certo carácter mais social e político. Tudo isso doseado com um pouco de fantasia e humor porque também não nos podemos levar muito a sério.
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Para além do site da Parq, onde podem os leitores encontrar a Parq?
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Temos à volta de 500 pontos de distribuição repartidos por GrandeLisboa, Porto, Coimbra, Aveiro, Leiria, Caldas, Évora. Em Setembro chegamos a Braga, Faro, Lagos.
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Se fosse possível questionar a generalidade dos vossos leitores sobre o vosso trabalho, que perguntas lhes fariam?
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Preferia que nos colocassem questões ou no mínimo que estivéssemos num diálogo mais efectivo. E de certa forma esse diálogo existe, pela quantidade de propostas de colaborações que recebemos. Cada proposta é uma forma diferente de entender o projecto que não responde a uma visão monolítica da coordenação. Apenas criamos balizas mas que dão espaço suficiente para que colaboradores e leitores possam expressar as suas formas de ser.
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Reparei que no editorial da Parq de Junho manifestas o desejo de não seguir modelos estereotipados organizados por interesses comerciais, e afirmas mesmo que de contrário uma revista não pode sobreviver ao desinteresse do leitor. De que modo se pode escapar a esses modelos estereotipados de que falas, que dificuldades antevês que possam advir de não seguir essa linha submetida a interesses económicos?
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Espero não ser mal interpretado. Obviamente, são as questões económicas que acabam por tecer o nosso tecido social em que vivemos. Elas estão sempre presentes. As revistas gratuitas e pagas estão cada vez mais dependentes das receitas das inserções publicitárias que obviamente condicionam os conteúdos. Por isso não seria de estranhar que Corine Roitfeld desabafasse o enjoo que lhe provocam os milhares de malinhas e saquinhos que aparecem na Vogue. É como se o mundo estivesse reduzido a acessórios. Porque se tem que dar cada vez mais do mesmo o público deixade ter qualquer interesse pelo conteúdo das revistas em geral. Se olharmos para uma Vogue francesa dos anos 60 ou 70 percebemos como havia ideais a combater, como cada número eram de facto inovador e surpreendente. Havia colaborações com escritores, intelectuais, o que dava uma outra dimensão social às revistas dessa época.
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Agora que a Parq vai de férias e volta em Setembro cabe desejar-vos umas boas férias e finalizar esta entrevista perguntando que desejos gostarias de ver realizados num futuro próximo no que toca a Parq?
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Que a revista cresça no sentido de formar uma comunidade parq.
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O autor deste blog agradece a disponibilidade de Francisco Vaz Fernandes e a simpatia com que colaborou com Esta Versão dos Factos para a realização desta entrevista.
Agradece ainda a Jorge Lemos Peixoto a permissão para que aqui fossepublicado o seu texto “O Peter Pan traído”.
Por fim congratula todas as pessoas que, num trabalho conjunto, contribuem para que a Parq possa chegar aos seus leitores todos os meses, pelo bom trabalho que têm desenvolvido e desejar felicidades na prossecução deste projecto.

Jazzing, Relaxing and Reading

Hoje acrescentei mais qualquer coisa a este blog, que devagar tem crescendo e ampliado o seu âmbito. Originalmente era apenas o meu laboratório de escrita, ou a minha oficina das letras, um projecto mais virado exclusivamente para mim do que para os outros.
Depois passou a ser um local mais virado para os outros, onde, sem deixar de ser uma versão onde sempre que posso exercito a minha escrita, comecei a colocar as minhas opiniões políticas, as músicas que oiço e que tenho todo o prazer em partilhar convosco, as fotografias que tiro, e umas versões que não lembram ao diabo de tão bizarras que são, além de versões de outros, de versões históricas e de versões biográficas... Enfim, um alargamento de âmbito que me tem agradado...
Há menos tempo disponibilizei gadgets, é assim que se chamam a estas coisas?... que permitem aos leitores deste blog ter sempre disponíveis as notícias actualizadas, o que me deixou bastante satisfeito.
E hoje consegui colocar uma banda sonora neste espaço. Escolhi uma playlist de Jazz, que ao que me parece é o estilo de música que mais tem a ver com estas versões, e que espero que proporcionem aos leitores uma boa passagem por este blog. Espero acrescentar a pouco e pouco muito mais músicas a essa playlist, e que este novo instrumento dê ao leitor, enquanto lê outra descontração.

sábado, 16 de agosto de 2008

Tons que tocam



Intérprete: Rui Veloso

Tema: Nunca me esqueci de ti

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

A actualidade intemporal dos grandes pensadores

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Estou neste momento a ler "O Príncipe" de Maquiavel, e antes de ir devolver umas horas de sono à cama, decidi vir partilhar convosco uma frase que li neste livro, e que apesar de ter saído da pena de Maquiavel, por volta de 1513, me parece ainda aplicavél aos tempos de hoje, e que me obrigou a reflectir um pouco... Espero que em vós tenha o mesmo efeito.
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"Todavia, vai uma tão grande distância entre a forma como se vive e a forma como se deveria viver, que, quem troca o que se faz por aquilo que se deveria fazer acaba por amargar a sua ruína em vez de garantir a sua preservação, porque um homem que em todos os seus actos pretenda fazer profissão da sua bondade acaba arruinado no meio de tantos que nenhuma bondade têm."
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In "O Príncipe"................
de Nicolau Maquiavel

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Malditos sensores

Cabe antes de mais pedir desculpa pela minha ausência, e explicar que se deveu a uma fase de exames, seguida de uma (merecida, penso eu) semana de férias, e férias são férias… Agora estou de volta, o que não significa que todos os dias tenha coisas novas para oferecer, mas que volta e meia aqui colocarei alguma coisa nova. Sei que assim é difícil ter leitores assíduos e fies, o que a minha falta de talento inato também dificulta, mas prometo combater a longo prazo esta minha falta de método, e tentar criar a pouco e pouco uma rotina (só a palavra arrepia-me) de escrita.
Hoje trago uma versão que não lembra ao diabo, muito curta, e que surge como forma de reclamação que apresento a todos os restaurantes e estabelecimentos que, como forma de darem um contributo para a salvação do nosso planeta, dispõem de sensores de movimento nas casas de banho, os quais se encarregam de acender e apagar a luz, poupando desse modo energia que doutra maneira seria gasta desnecessariamente. Pois bem… Cabe dizer que compreendo a louvável pretensão de poupar energia e o ambiente como já referi, mas desconhecem os senhores proprietários desses estabelecimentos a figura de parvo que o cliente faz quando vai urinar e a meio da satisfação das suas necessidades se apaga a luz. Não se trata do incómodo que isto pode causar a alguém que possa ter menos pontaria, mas da reacção inata que nós clientes temos, de a meio da satisfação das nossas necessidades acendermos de novo a luz. Por conseguinte damos connosco a dar ridículos jeitos ao pescoço e à cabeça, que no exposto contexto não fazem sentido mesmo nenhum. Depois, porque o pouco sensível sensor nem sempre respeita pequenos e toscos movimentos da cabeça, damos por nós a urinar e a dizer adeus de costas a um sensor que só apetece apedrejar.
Em face disto só me resta afirmar que sou contra este tipo de mecanismos cujo extermínio me agradaria, e ter pena de quem tem aflições que para serem satisfeitas merecem que uma pessoa se sente e se concentre um pouco, já que vai que não vai, lá têm de cumprimentar o sensor.
Enfim, tenhamos a capacidade de nos rirmos de nós próprios…

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Portugal vs Alemanha

E assim terminou a caminhada de Portugal no Euro 2008. Caíu, em minha opinião de pé, frente a uma forte Alemanha. Penso que foi uma boa prestação apesar de tudo. Como prometido, fica aqui guardado o último resumo dos jogos da seleção nacional em 2008.



O resumo deste jogo ficou entretanto indisponível.

terça-feira, 17 de junho de 2008

A “Europa” e a democracia

A “Europa” manda à revelia do povo. A “Europa”, ou seja, um certo grupo dirigente da Alemanha e da França e a burocracia de Bruxelas. Foi assim desde o princípio. A “Europa” legifera, dirige, proíbe, regula, comina e o mais que entende, os pequenos países recolhem com reverência a vontade da “Europa” e o cidadão obedece, sem saber porquê e, pior ainda, sem saber a quem. Tudo para sua saúde e felicidade, naturalmente. A convenção estabelece que os “grandes” seguem sempre uma ideia angélica, mesmo quando a crassa ralé não a compreende. Mas, como a democracia faz parte da doutrina e do dogma, é de quando em quando necessário “consultar” a figura sinistra do eleitor e o eleitor, por muito que o sarrazinem e apertem, tende ocasionalmente a estragar a obra da verdade e da luz.
Anteontem, a Irlanda votou contra o Tratado de Lisboa por uma confortável maioria (53,4 por cento). Não razões que a convencessem. Persistiu, impassível, na sua estúpida obstinação. O caso não é novo.
A própria Irlanda já tinha votado contra “Nice”. A Dinamarca já tinha votado contra “Maastricht”. E em 2005, incompreensivelmente, a França e a Holanda tinham votado contra uma exemplar “Constituição”, que o Tratado de Lisboa veio depois substituir Este último percalço resolveu, de resto, a “Europa” a pôr o povo definitivamente de lado e a encarregar os políticos de “ratificar” a coisa. No Parlamento, claro, sob vigilância. Só que a Irlanda, por causa de uma lei absurda, não podia escapar ao referendo e o exercício, como se esperava, acabou mal.
O Tratado de Lisboa, que requer para entrar em vigor o consentimento unânime dos signatários, pareceu por uma vez morto e enterrado. Sócrates por um pouco não chorou e a “Europa”, pela forma, gemeu. Não valia a pena. Durão Barroso disse logo ao Mundo e arredores que o cadáver continuava vivo. A Irlanda não conta. Basta inventar uma nova maneira para rodear, calar ou suprimir a opinião da ignorância, que se julga independente ou soberana. Ou se arranja um segundo referendo (e um terceiro, e um quarto) até a Irlanda aprender a lição. Ou se empurra a Irlanda para um estatuto ambíguo, entre o cá e o lá, o dentro e o fora. Ou se resolve imediata e fraudulentamente atribuir ao Conselho Europeu a “ratificação” final. Suceda o que suceder, a “Europa” não “pára” por uns votos. De que, aliás, não gosta.
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Autor: Vasco Pulido Valente
Fonte: jornal Público de 15 de Junho de 2008

Euro2008: Suiça vs Portugal

Já apurado para os quartos-de-final do Euro 2008, a selecção portuguesa mostrou, no último jogo da fase de grupos, contra a Suíça, que também tem dias menos bons, e a "equipa B" não foi capaz de derrotar uma das equipas anfitriãs deste Euro 2008. Esta exibição que qualifico como francamente desinteressante aqui fica guardada. Agora temos pela frente a Alemanha, frente a quem, independentemente do resultado, espero uma exibição de qualidade incomparável a esta, ainda que claro, tenha esperança numa vitória frente à forte Alemanha.


quinta-feira, 12 de junho de 2008

Euro2008: Republica Checa vs Portugal

Aqui fica o resumo do segundo jogo da selecção portuguesa neste Euro 2008. A vitória por 3-1 à Republica Checa confere desde já a passagem de Portugal aos quartos-de-final, uma vez que a Suiça perdeu com a Turquia 2-1 tendo ficado afastada a hipótese de aquela selecção chegar aos quartos-de-final.


quarta-feira, 11 de junho de 2008

A história das coisas

Olá caro internauta e potencial leitor, fique por aqui um pouco... Vale a pena perder vinte e dois minutos para assistir a este pequeno documentário. Faz-nos pensar no Mundo em que vivemos. Boa estadia!

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Euro 2008: Portugal vs Turquia

Esta Versão dos Factos vai registar e acompanhar os jogos da selecção portuguesa neste Euro 2008. Para aqueles que como eu não puderam ver, ou para aqueles que quiserem recordar, aqui deixo disponível a vitória sobre a Turquia.


sábado, 7 de junho de 2008

Porto




quinta-feira, 5 de junho de 2008

Maio de 68 - Os slogans e as fotografias



Como sempre, o autor deste blog não respeitou prazos, hábito que a sociedade gosta que possua (e ao qual ele continua a resistir), e lá deixou passar todo o mês de Maio sem uma única palavra sobre o Maio de 68. Interessa-lhe, no entanto, mais cedo ou mais tarde, conforme as suas disposições, aqui guardar e partilhar tudo o que puder sobre os mais variados temas, entre os quais se inclui, sem dúvida, o Maio de 68. Por isso, que se comemore aqui esse Maio que faz este ano 40 anos, em Junho, fora de horas, culpa exclusiva do relator d'Esta Versão dos Factos.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

“O Peter Pan traído”

“Foi o mês de todos os sonhos. A ocupação da Universidade de Paris e as manifestações estudantis levaram mais de 600 mil estudantes à rua a defrontarem-se violentamente com a polícia no Quartier Latin. Dali o turbilhão galgou os limites do reduto universitário e conquistou a adesão dos trabalhadores. Em poucos dias, dois terços da população activa, cerca de 10 milhões de franceses estavam em greve. Os grevistas, aliados aos estudantes exigiam o “impossível” “sejamos realistas exijamos o impossível, ou seja, o controlo de gestão e o poder, contrariando todas as orientações do Partido Comunista e dos sindicatos da CGT. A crise política instalou-se. O Presidente da República, Charles de Gaulle considerou a situação incontrolável, dissolveu a Assembleia e perante o alargamento da violência e dos distúrbios desaparece do país. Os estudantes chegam a declarar o que parecia inimaginável: o triunfo da anarquia! Mas a ressaca preparada por de Gaulle criou um verdadeiro volte face. Num comunicado difundido via rádio – como nos tempos de guerra – apela à ordem e convoca eleições. O efeito é devastador. Se antes da comunicação parecia que a França era a Rússia de 1917, com os soviets (conselhos de operários) prestes a tomar o poder, depois das palavras do velho General retomou os caminhos da Restauração.

Mas na secção dos perdidos e achados da história ainda ninguém levantou o Maio de 68. a tendência é analisar parcialmente este movimento com muitos clichés. Em 1948, Marx e Engels publicaram o “Movimento Comunista” e o começo dessa cartilha anunciava que “um espectro paira sobre toda a Europa; o espectro do comunismo”. Passados 120 anos, Paris faz renascer os espectros e as utopias de todos os libertários, principalmente aos desiludidos da revolução proletária, que encalhou ao longo do século XX nas brutalmente repressivas e castrantes sociedades do chamado socialismo real de feição soviética ou chinesa. Dos empedrados nas ruas da capital francesa, sob os quais os revoltosos diziam que estava a praia, (“debaixo dos empedrados, a praia!”) e que eram atirados contra os polícias de choque a chama de Prometeu voltava a luzir. Os grupúsculos de estudantes de origem burguesa sem qualquer ligação operária estavam prestes a concretizar os sonhos mais impossíveis de gerações de visionários e revolucionários.

Da iconografia desse momento passam em movimento lento as imagens de Marx, Lenine, Estaline, Mao, Che, Fidel, Ho-Chi-Min, mas também Bokarine, Trotski, Rosa Luxemburgo e até Marighella, mas nenhum deles, mortos ou vivos, ganhou a parada e alguns só deixaram uma sinistra herança de sangue. A ressaca do movimento forneceu caldo de cultura para o florescimento das brigadas vermelha, dos Baader Meinhoff e outros grupos de natureza criminosa, as mais das vezes instrumentos de manipulação dos múltiplos serviços secretos que pululavam na Europa nos derradeiros anos da Guerra Fria.

Ao contrário da citada iconografia, o Maio de 68 tem um lastro profundamente comportamental e grande parte do pensamento dos soixant-huitards provém de Freud e de Herbert Marcus. E um tanto hereticamente, pode dizer-se, de James Matthew Barrie, o escocês criador de Peter Pan tem também um cantinho nessa galeria de notáveis. Os soixent-huitards advogavam: “desobedece primeiro…” e Peter Pan é o jovem que recusa ser adulto e alia a liberdade absoluta ao prazer da aventura permanente. Os revolucionários de 68 fizeram jus a essa atitude e assumiram-na nas palavras de ordem que ainda hoje nos encantam: “Lizes moins, vivez plus”, “Je suis marxiste tendence Groucho”, “La revolution est encroyable parce que vraie”, “Cours, camarade; le vieux monde est derrièrre de toi!” (Lê menos e vive mais; Sou marxista tendência Groucho; A Revolução é incrível porque é verdadeira; Corre camarada: o velho mundo está atrás de ti – Esta gritada durante as cargas policiais).

Os protagonistas do Maio de 68 provêm de uma geração profundamente cinematográfica. O cinema depois da guerra criou mitos e ganhou estatuto de arte. A televisão banalizou a comunicação pela imagem. O poderio da imagem surge nessa década, (Kennedy versus Nixon) e a política descobre esta nova fórmula, mas é a geração soixaent-huitard que faz da imagem um trunfo de elevada importância na propaganda. Os cartazes, as fotos, a banda desenhada, a caricatura, as atitudes, a pose, o ar irreverente entra em cena com uma força até então pouco usual.

A exuberância quase libidinosa da revolta tem muito de espectáculo e de fetichismo. O detonador deste movimento não nasceu propriamente em Paris mas em Nanterre, nos arredores da capital, um verdadeiro feudo de movimentos esquerdistas. O rastilho deveu-se a uma atitude de repressão sexual. Uma disposição da Reitoria proibia os rapazes de visitarem as raparigas nos seus quartos. Em resposta, a agitação cresce e dão-se os primeiros tumultos, com portas arrombadas e vidros partidos. A Universidade responde com a criação de um conselho de disciplinar para julgar e castigar os jovens onde pontificavam, o então rebelde, Daniel Cohn-Bendit. O presidente do conselho disciplinar dirigiu o interrogatório a Cohn-Bendit, líder do grupo autor dos tumultos: “Em 22 de Março (dia dos desacatos) estava na faculdade? –Não, diz Cohn Bendit. –Onde estava? –Estava na minha casa. –E que fazia você em sua casa às três horas da tarde? – Fazia amor, senhor presidente, uma coisa que a si seguramente nunca lhe aconteceu”. Estava lançado o tom.

Este é o verdadeiro “Peter Pan” do movimento estudantil. Judeu de origem alemã, chegou a ser considerado “indesejável” pelas autoridades francesas, assumiu a face mais visível deste movimento. Cohn-Bendit corporizou como nenhum outro a imagem do Maio de 68 e da materialização das ideias de Marcuse, filósofo alemão, também de origem judaica, naturalizado americano e odiado tanto pela direita conservadora como pela esquerda. Protagonizada nas suas obras “Eros e Civilização” de 1955, “Homem Unidimensional”, “Tolerância Repressiva” e “Ética da Revolução”, uma mudança no mundo capitalista e no chamado mundo comunista. Marcuse defende uma nova racionalidade do prazer, contra a concepção do indivíduo como Logos (razão), partindo da interpretação da obra de Freud à luz do marxismo. O filósofo desenvolveu uma teoria onde o Eros (amor) é a pulsão que busca a satisfação na sexualidade, no prazer e no amor.”

Este legado comportamental, posto em prática na voragem dos acontecimentos de Maio foi uma bomba atómica nos costumes. A mulher assume a sua sexualidade e o seu direito ao prazer e ao orgasmo.

Mas passado o espectáculo e a efervescência, percebemos que o Maio de 68, por enquanto, é apenas uma recordação. A geração de 68 e os seus actores directos tornaram-se os inquisidores e nos justicialistas contemporâneos, servindo Estados que querem juntar a “moral” com o direito. Estados que produzem normativas disciplinares da moralidade, da saúde, dos comportamentos e do politicamente correcto. A esquerda light, que domina a ideologia dos Estados e cita as palavras de ordem do Maio de 68 quer tomar conta das consciências e promover uma relação incestuosa entre o Direito e a sua “moral”.”

Autor: Jorge Lemos Peixoto
Fonte: Revista Parq, nº 4 (de Maio de 2008)

terça-feira, 3 de junho de 2008

Tons que tocam

Intérprete: José Peixoto e Filipa Pais

Tema: Dia da tentação

Letra:

Põe um pouco de afecto
tira um palmo de saia
põe um passo indiscreto
e um tomara que caia

Deixa a cobra morder
deixa os outros falar
deixa a dor se doer
deixa o galo acordar
vai p'ro sol te comer
vai para o mar namorar
vai para a lua se der mas não vás trabalhar

Põe a rua virada
da cor da tentação
qualquer coisa encarnada
espalha a confusão

Deixa a porta bater
deixa a tralha ficar
deixa p'ra quem vier
deixa o cão a ladrar
Vai p'ra o ceu te engolir
vai p'ra rua brilhar
vai que tornas a vir
mas não vás trabalhar

Porque o cisne cantou, cantou
e o sino fez dlim dlão
mas o dia chegou, chegou
dia da tentação

Vai p'ro mar namorar
vai p'ra lua se der
mas não vás trabalhar
vai p'ro mar namorar
vai p'ra lua se der
mas não vás trabalhar
vai p'ro mar namorar
vai p'ra lua se der
mas não vás trabalhar

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Directas no PSD

Em vésperas de directas no PSD, permito-me fazer algumas apostas nos resultados, e digo apostas, não previsões, ciente de que não posso arrogar-me capaz de prever o que se vai passar, e ciente de que a minha comedida visão politica, não me permite analisar as directas no PSD, no verdadeiro sentido da palavra, mas apenas, como disse, fazer umas apostas, ainda assim fundamentando-as o melhor que posso.
Pois bem… Creio então que Manuela Ferreira Leite vencerá as eleições directas daquele partido. E acredito nisto porque penso que os militantes do PSD procuram, neste momento, mais do que tudo, devolver ao partido uma imagem de credibilidade tão imaculada quanto possível, e, não desprezando as qualidades dos adversários de Manuela Ferreira Leite, penso que a imagem de rigor, que tem, não só perante os militantes do PSD, mas também perante o eleitorado nacional, e que lhe valeu alguma impopularidade em determinados períodos da sua vida política (maxime, no Governo de Durão Barroso), deverá neste momento, em particular, jogar a seu favor.
Parece-me certo que o PSD precisa de se reorganizar, contudo, parece-me também que o partido já vai tarde para se apresentar como um partido forte e coeso nas próximas eleições legislativas de 2009.
Assim, considero que a Manuela Ferreira Leite caberá a tarefa de reabilitar a imagem do PSD, deixando, quando essa tarefa estiver terminada, o combate com Sócrates para outro alguém…
Quanto ao segundo lugar, aposto em Passos Coelho, que apresenta um projecto para oito anos, um projecto que me parece menos ambicioso, mas mais realista. A não ser que o PSD consiga uma reorganização em tempo recorde, e goze de algumas políticas menos conseguidas, por parte do actual governo, prejudicadas pelo aumento dos preços dos combustíveis, pela crise económica, entre outros factores externos, até 2009, não consigo conceber que em 2009 o PSD consiga verdadeiramente ameaçar o Governo de José Sócrates. De resto, de dizer que a sua campanha me pareceu politicamente correcta, não deixando de ser frontal, o que traz me faz pensar que lhe permitiu colher simpatias entre os militantes.
O último lugar do pódio, apostaria que está guardado para o Dr. Santana Lopes. Penso que, durante a campanha, perdeu tempo que tinha para esgrimir argumentos com algumas declarações que considero menos próprias no âmbito da discussão política, o que, ao que prevejo, em nada o beneficiará nos resultados destas directas. Além disso, a sua imagem, a meu ver, encontra-se algo agastada politicamente em face do eleitorado nacional, e se o PSD anda à procura de um líder para o presente, também anda à procura de um líder para o futuro, e tenho reservas quanto à questão de saber se os militantes do PSD vêm em Pedro Santana Lopes esse líder para o futuro, com franqueza, inclino-me mais para a resposta negativa a esta questão.
Certo é que, o Dr. Pedro Santana Lopes vai querer demonstrar que peso ainda tem no PSD, e conta, para isso, com alguns fiéis seguidores, resta saber quantos são, ou quantos sobram…
De resto… Apenas de questionar se os tiros que Santana Lopes apontou a Manuela Ferreira Leite não lhe vão sair pela culatra… E dizer que gritar vitória antes do tempo não me parece um acto demonstrativo de humildade, nem de elegância. Por outras palavras… Penso que, em qualquer circunstância, este comportamento “fica mal”.
Para terminar, volto a pegar numa “deixa” que tinha referido no início deste texto. Estou expectante em relação a uma figura importante do PSD, o Dr. Aguiar-Branco. Acredito que terá uma palavra a dizer no PSD, numa altura mais propícia, quiçá, conseguida pela Dra. Manuela Ferreira Leite, mas isso… falta ainda algum tempo para poder saber. No entanto, estou consciente de que, esta é uma hipótese tão ou mais remota como a de Passos Coelho conseguir nestas directas um resultado melhor do que o de Santana Lopes, e que só me permito fazer em sede de apostas, que têm por base mais fé (nuns casos) e inconciência (noutros), do que uma lógica racional.

Maio de 2008 - Um mês dramático para o Mundo

A dois de Maio, o ciclone "Nargis” atingiu a antiga Birmânia (país sul asiático), actual Myanmar. Desta catástrofe resultavam já, no dia seis de Maio, 15.000 mortos, e 30.000 desaparecidos, segundo o Público. Porém, a agência Reuters deu hoje notícia de 134 000 pessoas mortas ou desaparecidas (não discriminando o número de mortos e o número de desaparecidos), e pelo menos 2,4 milhões de desalojados.
O regime totalitário, que governa o país há mais de quarenta anos, demorou a aceitar ajuda humanitária, e agora que o fez, fê-lo de maneira nada transparente, além de que conseguiu fazer chegar boletins de voto, para aprovação da nova Constituição birmanesa, onde não conseguiu, nem permitiu, que chegasse ajuda humanitária. Como resultado desta cadeia de acontecimentos, Myanmar vive agora dias em que se temem doenças como a malária, o dengue e a cólera, temores que se agravam pelo facto daqueles que perderam tudo não terem também alimento, e como é sabido, os corpos sub nutridos ficam mais sujeitos às doenças.

Dez dias depois, o pior sismo dos últimos 30 anos (ocorrido em território chinês), abalou a região de Sichuan, provocando 67.183 mortes confirmadas e 20.790 desaparecidos, de acordo com um balanço provisório anunciado no dia 27 do corrente mês pelo governo chinês. Este sismo que atingiu a magnitude 8 na escala de Richter, fez ainda 361.822 feridos, e deixou cerca de cinco milhões de pessoas desalojadas (dados disponibilizados pelo Diário Digital).
Só as duas maiores réplicas que seguiram aquele sismo, uma das quais atingiu uma magnitude de 5.7 na escala de Richter, foram responsáveis pela destruição de mais de 420 mil casas. Neste cenário, prevê-se que o trabalho de reconstrução da província de Sichuan pode demorar, pelo menos, três anos.
Há ainda uma elevada preocupação com as barragens que sofreram deteriorações com o abalo, estando previstas chuvas fortes e tempestades, nos próximos dias, para aquelas regiões. (Dados consultados no jornal Público).

Um dia antes, a onze de Maio, facas, machados, garrafas, paus e tijolos serviram para agressões bárbaras, protagonizadas por sul-africanos, contra outros africanos, imigrantes na África do Sul. Houve notícia de imigrantes queimados vivos, linchados e de casas de imigrantes pilhadas e incendiadas nos arredores de Joanesburgo.
Esta onda de violência xenófoba dirige-se contra imigrantes do Zimbabwe, de Moçambique, do Congo, do Malawi, da Nigéria, da Etiópia e da Somália. Estes africanos que deixaram o seu país de origem, para reconstruírem as suas vidas na África do Sul, são acusados de ocuparem os postos de emprego que deviam caber aos sul-africanos, num país em que o desemprego atinge uma taxa de aproximadamente 40%; assim como de contribuírem para o aumento da criminalidade naquele país.
Desta onda xenófoba, que se estendeu a sete das nove províncias da África do Sul, resultaram, pelo menos, 52 mortos, centenas de feridos, um número de desalojados, de várias nacionalidades, que ascende 600.000, e cerca de 29 mil retornados…

Face aos factos apresentados, cabe-me manifestar n’Esta Versão dos Factos uma enorme tristeza, e constatar que este mês de Maio foi um mês trágico para o Mundo...

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Tributo a Maio

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Albert Camus

Como já tinha dito, dedico agora mais a ler do que a escrever, visto que é crucial ler bastante para se aprender a escrever. O último livro que li foi “A Peste” de Albert Camus, obra que valeu a este autor o Prémio Nobel da literatura em 1957.
Quando acabei de ler o livro constatei que, antes de ir buscar o livro a uma das estantes do sótão, não conhecia o autor, e lembrei-me de pesquisar sobre Albert Camus para depois publicar n’Esta Versão dos Factos, o primeiro post de uma nova rubrica – Versões biográficas.

(Eis o que descobri: )

Albert Camus, escritor francês, nasceu na Argélia, em Mondovi, província de Constantina, a 7 de Novembro de 1913. Faleceria aos 47 anos de idade, em Janeiro de 1960, em consequência de um acidente de automóvel, quando regressava a Paris, vindo de uma pequena digressão.
Enfrentou grandes dificuldades durante os seus estudos na Faculdade de Argel. Foi obrigado a recorrer a diversos empregos para suportar as despesas da vida de estudante, entre os quais se contam: vendedor de acessórios para automóvel, meteorologista, empregado num escritório, funcionário administrativo na Polícia. Simultaneamente dedicava-se ao desporto e animava um grupo teatral – L’Equipe.
Licenciado em Filosofia, a doença (uma crise de tuberculose) impediu-o de levar mais longe a carreira de Professor. Dedicou-se então ao jornalismo. Com a invasão da França ingressou na Resistência Francesa, e a Libertação encontrou-o redactor do jornal Combat.

Entretanto, o seu nome subira ao primeiro plano do panorama literário francês e mundial. Em 1957, (como já referi) sobreveio a consagração do Prémio Nobel, atríbuido à obra “A Peste”. Este romance retracta alegoricamente a realidade da ocupação alemã numa cidade assolada por uma epidemia, cenário para a apresentação da condição humana.

“Com efeito, ao ouvir os gritos de alegria que subiam da cidade, Rieux lembrava-se de que esta alegria estava sempre ameaçada. Porque ele sabia o que esta multidão eufórica ignorava e se pode ler nos livros: o bacilo da peste não morre nem desaparece nunca, pode ficar dezenas de anos adormecido nos móveis e na roupa, espera pacientemente nos quartos, nas caves, nas malas, nos lenços e na papelada. E sabia também que viria talvez o dia em que, para desgraça e ensinamento dos homens, a peste acordaria os seus ratos e os mandaria morrer numa cidade feliz.”

Exerto de “A Peste”
De Albert Camus

Na base da obra filosófica e literária (uma obra de ficção e ensaísta) de Camus está sobretudo a reflexão sobre o absurdo, mas também o suicídio, a solidão, a morte, a esperança e a solidariedade. Os seus livros testemunham as angústias do seu tempo e os dilemas e conflitos já observados em escritores que o precederam, tais como Franz Kafka, ou Dostoiévski.
Camus é, a par de Sartre e de Simone de Beauvoire , considerado um dos escritores mais representativos do existencialismo francês (corrente filosófica e literária que destaca a liberdade individual, a responsabilidade e a individualidade própria do ser humano. O existencialismo considera cada homem como um ser único que é responsável pelos seus actos e dono do seu destino). A sua reflexão recai inicialmente sobre o absurdo, o suícidio (tema retratado em “O Mito de Sísifo”), a solidão e a morte, dirigindo-se gradualmente para a esperança e a solidariedade humanas como possíveis soluções para o drama do absurdo. Esta trajectória serve de apoio a um aproveitamento interessado do seu pensamento e da sua figura pelos círculos católicos.
A límpida perfeição estilística da sua escrita e a sobriedade da sua inspiração novelesca contribuem, em grande escala, para a eficácia da sua expressão literária.
Segundo o próprio autor, as suas obras agrupam-se pelos círculos temáticos: da rebelião (integrado por “A Peste”, pelos dramas “O Estado de Sítio” e “Os Justos”, e pelo ensaio “O Homem em Rebeldia”); e o da medida (do qual fazem parte os relatos “ A Queda” e “O Exílio e o Reino”).



“Você sabe o que é o encanto?

- é ouvir um sim como resposta sem ter perguntado nada.”

Fontes:

- Sites / Bloges:

http://margemesquerdatribunalivre.blogspot.com/

www.vidaslusofonas.pt

www.wikipedia.org

- Livros:

"A Peste" - Publicação do jornal Diário de Notícias

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Preço dos combustíveis

Face à evolução dos preços dos combustíveis, o Esta Versão Dos Factos passa a palavra e disponibiliza um link, na área Versões interessantes, de um site que lhe permite saber qual o posto de abastecimento mais barato da área em que se encontrar (o site maisgasolina).

‘Perhaps 60% of today’s oil price is pure speculation’
by F. William Engdahl

terça-feira, 20 de maio de 2008

A união faz a força

Vídeo vencedor do YouTube's Best Eyewitness Video.

Paragens de autocarros


Hoje inicio uma nova rubrica que achei por bem baptizar de versões que não lembram ao diabo. Trata-se de tiras da vida comum, episódios curtos e caricatos, a que assisti ou que alguém que assistiu me contou, e por serem momentos insólitos, vale a pena guardar aqui.
Cabe então recordar, os dias em que eu andava de autocarro quase diariamente, numa cidade em que o autocarro da linha X era de longe o mais requisitado pelos utentes dos transportes públicos, já que dava a volta à cidade toda. Nesses dias, mais de uma vez aconteceu, aparecerem senhoras e senhores, normalmente idosos, que perguntavam a todos quantos estávamos na paragem, se o autocarro X já tinha passado. Será que pensavam que a empresa dos transportes tinha pessoal nas paragens encarregado de avisar os utentes dos autocarros que já tinham perdido, e de os consolar, informando-os de que daí a dez minutos no máximo teriam outro? Qualquer coisa do tipo… “- Há pá!... Que azar que a Sra. teve…. O X passou mesmo há dois minutos, já viu…? Por dois minutos ficou apeada… Que pouca sorte… Mas deixe lá… daqui a uns 8 ou 9 longos minutos estará aí outro… Veja lá se não é melhor ligar para casa a avisar que se atrasou, não vão eles ficar em cuidados…”. Ou será que eu devia dizer-lhes: "Olhe... Ainda bem que chegou que o X já passou e eu fiquei aqui para a avisar. Ainda pensei que se você não chegasse eu perdia o próximo." E às vezes pergunto-me... Será que alguém faz estas perguntas no metro?...
E depois, quando me acontecia isso, ainda me sentia mal, porque caso aquela hipótese fosse possível, era sempre chato ser confundido com o empregado da empresa de transportes… Vamos lá a ver… É que é a mesma coisa que por entrarmos na SportZone com uma T-Shirt cor-de-laranja vir alguém perguntar-nos se não há o um tamanho maior de um determinado par de ténis.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Tons que tocam

Intérprete: Sérgio Godinho

Tema: Bíblias de Um Deus Ateu

Letra

O escasso tempo e os muitos projectos pessoais

Tenho pena de dar menos atenção a este blog do que tinha pensado dar, mas, e ainda que este blog seja ainda uma criança, decidi tirar uma espécie de sabática, um tempo para ler mais, e desse modo aprender a escrever melhor. Além disso, voltei ao papel, o meu formato preferido, e colocarei aqui o que de melhor for escrevendo, o que de melhor foi “saindo” embora por falta de método e de autodisciplina (ou seja, por não escrever todos os dias, ou dia sim dia não…) me vá também permitir postar aqui coisas apenas quando já tiver matéria suficiente para fazer publicações mais ou menos regulares. De qualquer modo, é sempre bom vir cá deixar mais qualquer coisa, mesmo que apenas um lamento por não ter tempo, inspiração ou vontade para aqui colocar mais coisas… E consolo-me com o facto de ele ser ainda um blog vivo… Com pouca vida (com uma infância pouco mexida), mas um projecto que pretende evoluir e que não está, ao contrário do que parece, moribundo.

sábado, 19 de abril de 2008

Tons que tocam

Intérprete: Mesa (com Rui Reininho)

Tema: Luz Vaga

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Como prometido II

Desde que não estás comigo

Oito meses já. Oito meses e onze dias e, se olhar para o relógio, digo-te o número de horas: oito meses. onze dias e dezoito horas. Quase dezanove. Há oito meses, onze dias e dezoito, quase dezanove horas tu no patamar, com duas malas, a carregares no botão do elevador que chegou num instante para mim e demorou eternidades para ti pelo modo como batias com a ponta do sapato no chão e eu no capacho a ver-te, demasiado cheio de palavras para te conseguir falar. Depois o elevador parou, abriste a porta, empurraste a porta, empurraste as malas para dentro e foste-te embora sem olhar. O perfume aguentou-se um bocado por ali. Quando deixei de o sentir fechei a porta. Passada uma semana desapareceu do apartamento também. Inclusive do quarto. Inclusive do armário onde a tua roupa esteve. Cabides vazios, nenhum cheio. Sobrou metade de um brinco numa gaveta. Não um brinco caro, uma dessas coisas de fantasia que usavas no verão. Plástico e arame, arame e plástico com uma conchinha verdadeira na ponta. A conchinha baloiçava ao falares. Fui buscar o martelo e acabou-se o brinco. O problema foi a mossa que deixei na cómoda. Gostava que tivesses visto: plástico e arame quebrados por todo o lado. A conchinha não sei onde pára, nunca mais lhe pus a vista em cima. Um destes domingos, que é quando passeio pela casa a odiar-te, encontro-a a meio escondida numa frincha do rodapé, puxo-a com uma faca ou isso e aí está o martelo de novo. Com mais força e a conchinha pó. E a partir daí sim, somes-te por completo. Um alívio. Mas como não sou vingativo desejo-te que estejas bem, desde que não te ponha a vista em cima. E se te puser a vista em cima oxalá não tenha o martelo. Oito meses imagine-se. Apetece-te um dos iogurtes fora de prazo do frigorífico? Desde há oito meses que só há coisas fora de prazo aqui, a começar por mim. Claro que continuo a trabalhar, a sair com os rapazes à sexta, a trazer de tempos a tempos uma pequena ou outra sem brincos de fantasia, com brincos autênticos. Uma delas aspirou-me o chão. Queria fazer o ninho comigo, ocupar o teu lugar. Era ruiva. Não ruiva pintada, ruiva autêntica. Sempre que conheço uma ruiva começo a contar-lhe as sardas, é mais forte que eu, e esqueço-me dos deveres de homem: fico para ali de dedinho espetado, a somar. Aspirou-me o chão, foi lá a baixo deitar dúzias de jornais antigos no contentor, informou
- Esta escova de dentes está uma miséria
não conseguiu ligar a torradeira, deu-me um papelinho com o telefone e foi-se embora. Hei-de tê-lo por aí, na gaveta das facturas. Não conseguiu ligar a torradeira visto que ninguém consegue ligar a torradeira, em Março deitou umas chispas, deu um salto e faleceu. As fatias de pão continuam entaladas no interior do mecanismo, invisíveis, excepto um cogumelozinho de bolor que surge de vez em quando do metal amolgado. À parte isso e à maior parte das torneiras pingarem vai-se vivendo: oito meses e onze dias sem ti é obra. A minha mãe sugere que me case outra vez. Lava-me a roupa, dá um jeito nas coisas. Não falamos de ti. Fala da enteada da vizinha do andar de baixo, que tem bom feitio, é solteira e trabalha nos impostos. Um autocarro atropelou-lhe o namorado. A minha mão garante que já me mencionou a ela várias vezes, nessas conversas à porta do prédio, cada qual com a sua chave e o seu saco de compras e a enteada deu ares de interessar-se. Faço ideia o que a minha mãe lhe terá dito. Sei que pediu um retrato para me mostrar e no retrato uma mulher de ar triste, sem idade. Não ruiva. Pelo menos não teria de contar-lhe as sardas. O problema é que a tristeza se pega e não me vejo a aquecer o leite de manhã apagando uma lágrima na manga do pijama. O autocarro arrastou-lhe o namorado uns vinte metros e essas coisas marcam. Ou então foi sempre triste, há pessoas a quem alegra sofrer. O que me custou mais no retrato é que usava brincos parecidos com os teus, de conchinha na ponta.
Sinceramente não me apetece martelar mais nada.
Oito meses e onze dias, olha-me para a rapidez do tempo. Daqui a momentos sou velho, quarenta anos, cabelos brancos, pedras na vesícula, essas maçadas, uma eternidade para subir os degraus, problemas para segurar o cuspo do lado esquerdo da boca. Tu não mudaste nada de certeza, nunca mudaste desde que te conheci. Umas rugazitas, talvez. Não, nem sequer umas rugazitas, intacta.
Chamavas-me
-Meu coelhinho
ao principio, depois do princípio passaste a chamar-me
- Amadeu
e depois de
-Amadeu
passaste a não chamar-me fosse o que fosse. Às vezes dava por ti a espiar-me com pena, abanando a cabeça. Não tive coragem de perguntar o que significava o abanar de cabeça, suponho que desilusão a meu respeito, ou
- O que estou a fazer aqui?
ou
- Porque carga de água te aceitei, enganei-me.
ou qualquer sentimento desse género e eu calado. O que podia dizer? Tudo se passou em silêncio, aliás. Um feriado estava eu na sala, ouvi barulho de gavetas no quarto e eras tu às voltas com as malas. Nenhum de nós soltou um pio. Arrumava a roupa de costas para mim e ias empilhando camisolas dobradas. Escutavam-se os automóveis a passar na rua, ia jurar que se escutava o pêlo do tapete ao lado da cama a crescer. Quando acabaste afastei-me para o lado e deixei-te passar. Não senti nada salvo uma espécie de vazio, um oco enorme. Perguntas que não fui capaz de fazer. A lembrança do
-Meu coelhinho
A atazanar-me. O que sucedeu connosco, explica-me o que sucedeu connosco. Tenho a certeza que não mudei. Quem mudou foi o andar, os móveis, apesar do sol a impressão de que me chovia por dentro. Se fechasse os olhos
(não fechei os olhos)
a chuva a descer atrás das minhas pálpebras. Não fui à janela ver-te na rua, fiquei ali encostado ao louceiro, com ganas de meter-me debaixo dele como um coelhinho. O teu coelhinho. Há sempre alturas em que apetece pegar num bicho ao colo, nem que seja eu, e passar-lhe a mão pelo corpo, das orelhas à cauda, a dar conta do coração muito rápido, muito rápido, de uma vida aflita debaixo dos dedos. Oito meses, onze dias, dezanove horas e meia. Para a semana a minha mãe prometeu trazer-me a enteada da vizinha. Não vai encontrar-me: estarei no interior da torradeira como as fatias de pão. Quando muito hão-de ver o cogumelo de bolor de uma lágrima a surgir do metal amolgado.

Autor: António Lobo Antunes
In: Revista Visão de 8 de Fevereiro de 2007
post scriptum -Aqui fica o texto que tinha prometido ao André Pereira. Peço desculpa pela demora mas tive que vasculhar algumas gavetas para o encontrar.

sábado, 12 de abril de 2008

Rir e Chorar

"Em menos de 15 dias, Luís Filipe Menezes propôs para espanto e abatimento dos poucos portugueses, que persistem em o levar a sério: 1.º Um debate de fundo sobre a “qualidade” da democracia sob o Governo socialista; 2.º A “harmonização” fiscal com a Espanha; 3.º A “autonomia sem limites” da Madeira e Açores; 4.º E uma nova Constituição. Como se isto não chegasse, algumas personagens menores do PSD tentaram arranjar um “escândalo” que envolvia a vida privada do primeiro-ministro. Para guia do cidadão comum, devia existir um registo oficial e diário do que Luís Filipe Menezes anda por aí a dizer. Já começa a ser difícil seguir o delírio político do “chefe” e do partido, sem ajuda organizada. A trapalhada, de resto, atingiu proporções que ultrapassam a inteligência média.
As sondagens, de resto, provam isso mesmo: 26,5 por cento do eleitorado não confia em Menezes para dirigir o país. Pior: só 26 por cento tenciona votar PSD (menos do que na pior época de Marques Mendes). Não tarda muito nem esse último grupo de fiéis resiste. Terça-feira, por exemplo, Ângelo Correia saltou do barco. Não por interesse com certeza, porque não tem nada a perder. Provavelmente, por vergonha. É preciso, explicou ele, que o PSD recupere a “capacidade de pensar”. Mas quem lá pela casa pensa? Pedro Passos Coelho, um bom amigo de Ângelo, ofereceu a sua pessoa e, oferecendo a sua pessoa, aumentou a confusão, que, por outra parte, lamenta. O PSD adquiriu um novo, presuntivo chefe (para o seu longo cemitério da espécie) e ficou mais dividido do que estava. O pânico nunca é racional.
Se esta tragédia ou esta farsa, como quiserem, fosse um episódio interno do PSD, não vinha grande mal ao mundo. Infelizmente, nenhum regime sobrevive à degradação do sistema partidário em que assenta e o regime vigente assentou sempre, e até agora, em dois partidos: no PS e no PSD. Sem o PSD (e com Paulo Portas cercado), não há direita e, sem direita, não há “alternância”. Pode haver, em 2009, uma segunda maioria absoluta e um Partido Socialista Institucional, como dantes no México, que tornará Cavaco irrelevante. Ou seja, se a esquerda (o PC e o Bloco) conseguir o milagre de reduzir o PS à maioria relativa, pode haver um corpo-a-corpo geral, no meio de crise económica sem concerto. As duas coisas são um desastre para toda a gente. O dr. Menezes, que nos faz rir, ainda acaba por nos fazer chorar.”
In Jornal Público de 11 de Abril de 2008
Autor: Vasco Pulido Valente

sexta-feira, 11 de abril de 2008

A chama de Prometeu e o sopro olímpico dos tibetanos

Quando Prometeu roubou o fogo, elemento sagrado na mitologia grega, a Zeus, para o oferecer aos mortais, estava longe de imaginar que um dia um povo o tentaria apagar.
No entanto, oprimidos há mais de cinquenta anos pela República Popular da China, os tibetanos viram na viagem mundial da tocha olímpica uma oportunidade com um mediatismo impar para confrontar o Mundo com a situação que o seu país atravessa devido à ocupação chinesa, e às constantes violações dos direitos humanos que o seu povo sofre. Assim, ao passar por Londres e Paris a tocha olímpica teve um caminho penoso acompanhado por manifestantes que desejam obrigar o Mundo a não olhar para o lado quando se fala na crise do Tibete.
A ocupação chinesa iniciou-se em 1949. Em 1959, deu-se um levantamento tibetano que não consegui atingir o objectivo de libertar o país da ocupação chinesa. Pelo contrário, esse levantamento fragilizou a posição tibetana e consolidou a posição do governo comunista.
Desde o início da invasão, aproximadamente 1,2 milhões de tibetanos morreram, cerca de cem mil tibetanos, entre os quais Dailai Lama (Oceano de Sabedoria – o líder espiritual do povo tibetano) foram obrigados ao exílio na Índia, e mais de seis mil e duzentos mosteiros foram destruídos, restando apenas treze. Daí os protestos a que se tem assistido denunciarem, não só a invasão chinesa, a violação de direitos humanos, mas também o genocídio cultural, uma vez que a República Popular da China tem dirigido esforços também no sentido de enfraquecer tanto quanto possível a cultura e a religião tibetanas.
O Governo da República Popular da China afirma que o Tibete já fazia parte do seu território, porém, a verdade é que os Dalai Lamas governaram o país sem interferências chinesas até ao início do século XX.
O 14º Dalai Lama (Tenzin Gyatso) tem-se batido desde há meio século, de uma forma não violenta, pela autonomia do seu país. Essa sua causa valeu-lhe o Prémio Nobel da Paz, em 1989, prémio que deu uma maior, mas ainda assim, insuficiente visibilidade ao problema do Tibete. Muitos chefes de governo ocidentais rejeitam ainda hoje reconhecer Dailai Lama como um homólogo. Essa recusa prende-se sobretudo com o facto da China se apresentar actualmente como uma das economias em maior crescimento a nível mundial e de aquele país ser previsivelmente o país que partilhará com os Estados Unidos da América e com a União Europeia a liderança global ( a este respeito ler o artigo “A queda do império americano” que saiu na revista Courrier Internacional, número 146, de Abril de 2008). Assim sendo, a comunidade internacional, preocupada com possíveis relações comerciais com a China no futuro, não ousa pressionar o gigante económico que continua em crescimento, evitando a questão da violação dos direitos humanos, e quando confrontados com ela, e não lhe podendo escapar, abordam a questão com uma enorme precaução, procurando não tomar partido, embora por vezes revelem uma hipócrita e incolor preocupação. Enquanto isto se passa Pequim destrói a cultura tibetana de forma impune e defende-se afirmando que o Tibete conseguiu um impressionante crescimento económico sob o regime comunista.
No entanto, o fogo que Prometeu ofereceu aos humanos, e o sopro olímpico dos activistas dos direitos humanos e dos defensores da autonomia do Tibete na tentativa de o apagar, atearam um incêndio na comunicação social que deu nova exposição à situação que se vive naquele país. Face a este desenrolar de acontecimentos, o Parlamento Europeu, aprovou recentemente (por larga maioria) uma resolução através da qual solicita aos governos da União Europeia que boicotem a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, caso o Governo chinês não dê início a negociações com o Dalai Lama sobre a situação do Tibete. Neste novo quadro, os activistas dos direitos humanos continuam a acompanhar a tocha olímpica do outro lado do Atlântico, porém já não tentam apagá-la cientes de que se fizeram ouvir e de que, neste momento é importante não deixar esquecer o assunto, mas também não perder a credibilidade perante a opinião pública internacional.
Resta agora esperar que a União Europeia vinque a sua posição e que desse modo dê um contributo importante no sentido de solucionar a crise no Tibete.

“Depois de terem arrasado os quase 6000 mosteiros do Tibete, terem transformado os seus recintos sagrados em estábulos ou celeiros, de terem utilizado na construção de mictórios as tradicionais pedras inscritas com mantras, terem forçado milhares de monges e monjas a terem relações sexuais em público, terem queimado bibliotecas inteiras com manuscritos religiosos originais, terem blasfemado, insultado, ridicularizado e torturado centenas de homens santos que viviam em cavernas isoladas dedicados à oração, as autoridades chinesas ainda acreditam ter legitimidade para interferir no reconhecimento e escolha do novo Panchen Lama [ou Grande Sábio, segunda liderança religiosa no Tibete, logo depois do Dalai Lama] …”

Lia Diskin

In: Invasão do Tibete da Colecção Guerras e Religiões (Fonte principal deste artigo)


“O que está a acontecer nada tem de súbito. Mesmo nos blogues apertadamente censurados e outros “media” populares no Tibete, havia o sentimento de que a cólera crescia”.

“A luta tibetana perdurará por várias gerações, a menos que se encontre uma solução com o actual Dalai Lama.”

In: The Independent
Autor: Tsering Topgyal (autor tibetano que se encontra a preparar uma tese sobre o conflito sino-tibetano na London School Of Economics)
Artigo publicado em português na Revista Courrier Internacional de Abril de 2008

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Como prometido

Aqui vos deixo (e aqui guardo) o artigo do António Lobo Antunes de que vos tinha falado...
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"Agora que já pouco te falta
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Acabei de lanchar no cafezinho em que como uma torrada e voltei para aqui, o lugar onde escrevo e onde desde meados de Novembro não escrevo nada. Terminei um livro por essa altura, para ser publicado em Portugal no fim do ano que vem, e nestes mais de dois meses nem uma linha. Sento-me à mesa e nada. Há quatro ou cinco dias uma coisa começou a formar-se dentro de mim. Não posso dizer que seja uma ideia porque não é uma ideia, são filamentos, vozes, vagas caras que se desvanecem. Dá-me a sensação que é o próximo trabalho. Decidi começar no dia 25 de Fevereiro, na ilusão de que até lá o material se defina um pouco. Quero fazer o meu livro mais importante, o definitivo, o último, tão importante que, depois dele, já não precise de compor nada. Então saio e vou para um banco de jardim contar pombos e assistir à bisca dos reformados. Talvez ponha um anúncio de convívio no jornal. A semana passada li um desses em que o cavalheiro começava por anunciar que tinha carta de ligeiros e pesados. Fiquei a sonhar com a carta de ligeiros e pesados o dia inteiro. Noutro uma senhora pedia um homem educado e não fumador. Imaginei uma viúva a beber chá de tília a uma camila com braseira dentro. Talvez os nossos dedos se encontrassem no bule. Retratos de defuntos, incluindo um marido sombrio numa moldura com rosinhas de cobre, e ela a inspeccionar-me a roupa, suspeitosa. Dedos ossudos, quase transparentes, que deixavam que os acariciasse um momento antes de se escaparem numa vergonha corada. Um gato a desaparecer quando fechava os olhos, tornando-se bibelot. Cortinas a esconderem a rua. Sofás protegidos por plásticos. Uma esfregona num desvão.
Portanto desde meados de Novembro que não escrevo nada. Espero. Normalmente acho que acabei, que não volto a ser capaz. Agora apareceu-me este fiozinho de esperança. Mas o que me vem à cabeça é tão difícil de fazer, tão ambicioso, tão para além das minhas palavras e das minhas forças. Só começo quando estou bem seguro de não se capaz. Não seria mais fácil beber chá de tília a uma camila com braseira dentro?
22 de Janeiro hoje
Um dia sei lá porquê, longo, longo. Sol e pombos na rua, criaturas vestidas de verde a multarem ferozmente os automóveis estacionados, uma rapariga que caminha como os peixes do aquário, um espasmo de barbatanas e pronto. Saio da porta, volto à mesa. Onde é que eu ia? E quem se importa onde é que eu ia, onde é que eu vou?
As cartas por responder acumulam-se na mesinha. Caixotes de livros. Sorrisos de pessoas de quem gostei e a morte levou. Levou mas continuam comigo, tão presentes. Respiram. De algumas oiço-lhes a voz. Olá a todos, deixem-se estar aí. Embora finja que não necessito tanto de companhia. Um estar aí que é já muito. E daqui a nada noite e eu dissolvido nela. Dissolvido nela. Dissolvido nela. Até não me ficar nem uma ideia de quem sou.
Cavalheiro sem carta de ligeiros e pesados procura senhora nas mesmas condições, quer dizer sem uma ideia de quem é. Se abrir a torneira ouvirei o ruído do mar?
Em pequeno, na cama, as ondas chegavam até mim, uma após outra, misturadas com o vento nos pinheiros e o imenso mistério da vida. E escutava-as na certeza de ser feliz e eterno. Amanhecia e o mar calava-se. Via-o na janela no mesmo sítio, em silêncio, ele que no escuro encostava a cabeça aos caixilhos para me ver dormir e me seguia com aqueles olhos que o mar tem, ao mesmo tempo zangados e cheios de lágrimas e, no corredor da casa, os passos da insónia, tac tac tac. Não sei se a 25 de Fevereiro começo a escrever. Mudo de posição na cadeira, volto a página, pergunto
- Como é que se faz um livro?
Porque continuo sem saber como se faz um livro. Não me acho capaz de explicar os que até agora se publicaram, o que lembro melhor é o esforço enorme e, por vezes, mais raramente, uma alegria indizível. Ainda existirá algo em mim?
O mar e o cacto a seguir ao muro, a oscilar rigidamente. Agarra-te ao teu fiozinho de esperança, experimenta. Começa a preparar a mão, coisa que contigo leva tempo. Tenta que aquilo que existe em qualquer parte tua caminhe na direcção certa onde as palavras te esperam adormecidas. Acorda-as devagarinho, não escutes os passos da insónia, tac tac tac, no corredor. Tens 10 anos, 20 anos, tens todas as idades ao mesmo tempo, estás cheio de medo mas começa. O mar, o cacto, o sol, os pombos. Deixa tudo o que não seja o livro e começa. Se tiveres sorte é o teu livro. Se tiveres ainda mais sorte o teu último livro, a razão de teres nascido.
Depois, sem te voltares para trás, acenas adeus à medida que te afastas para um jardim de reformados até que a morte te diga
- Já vai sendo tempo, filho
e poderás sorrir-lhe como a uma namorada antiga que nunca envelheceu
sorrir-lhe
(entendes o que eu digo?)
numa mistura de timidez e confiança,
porque
(entendes mesmo o que eu digo?)
te tornarás feliz e eterno."


António Lobo Antunes
In Revista Visão (de 21 de Fevereiro de 2008)

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Crises....

Hoje venho apenas registar que não sabia que podia ir, por vezes, uma distância tão grande entre uma vontade enorme de escrever, e escrever o que se têm vontade. O processo de transformação dos pensamentos, da imaginação, ou de reflexões, em palavras escritas que os, ou as, traduzam de uma forma fiel nem sempre é simples e nem sempre é espontâneo. Estou neste momento numa dessas fases em que apesar de ter muita vontade de escrever, quando a caneta começa a deslizar eu sinto-me logo insatisfeito com o pequeno traço que acabei de fazer. Acho que até a esferográfica se sente culpada pelos olhares que volta e meia deito ao que escrevi.
E note-se que escrevo sobretudo para mim, e que este é o meu “laboratório de escrita”, razão pela qual não me preocupo excessivamente com olhares naturalmente críticos de leitores virtualmente perdidos que venham dar a este cantinho da Internet.
Contudo, fiquei contente hoje quando li um artigo do António Lobo Antunes, que vinha na revista Visão de Fevereiro de 2008, que descreve uma crise idêntica de uma personagem, o que nas palavras dele me pareceu uma crise normal, e não um sintoma sério de uma falta de talento inata (de que ainda não estou certo de que não sofro).
Hei-de guardar aqui esse artigo nos próximos dias… E também continuarei a tentar vencer esta crise…