Quando Prometeu roubou o fogo, elemento sagrado na mitologia grega, a Zeus, para o oferecer aos mortais, estava longe de imaginar que um dia um povo o tentaria apagar.
No entanto, oprimidos há mais de cinquenta anos pela República Popular da China, os tibetanos viram na viagem mundial da tocha olímpica uma oportunidade com um mediatismo impar para confrontar o Mundo com a situação que o seu país atravessa devido à ocupação chinesa, e às constantes violações dos direitos humanos que o seu povo sofre. Assim, ao passar por Londres e Paris a tocha olímpica teve um caminho penoso acompanhado por manifestantes que desejam obrigar o Mundo a não olhar para o lado quando se fala na crise do Tibete.
A ocupação chinesa iniciou-se em 1949. Em 1959, deu-se um levantamento tibetano que não consegui atingir o objectivo de libertar o país da ocupação chinesa. Pelo contrário, esse levantamento fragilizou a posição tibetana e consolidou a posição do governo comunista.
Desde o início da invasão, aproximadamente 1,2 milhões de tibetanos morreram, cerca de cem mil tibetanos, entre os quais Dailai Lama (Oceano de Sabedoria – o líder espiritual do povo tibetano) foram obrigados ao exílio na Índia, e mais de seis mil e duzentos mosteiros foram destruídos, restando apenas treze. Daí os protestos a que se tem assistido denunciarem, não só a invasão chinesa, a violação de direitos humanos, mas também o genocídio cultural, uma vez que a República Popular da China tem dirigido esforços também no sentido de enfraquecer tanto quanto possível a cultura e a religião tibetanas.
O Governo da República Popular da China afirma que o Tibete já fazia parte do seu território, porém, a verdade é que os Dalai Lamas governaram o país sem interferências chinesas até ao início do século XX.
O 14º Dalai Lama (Tenzin Gyatso) tem-se batido desde há meio século, de uma forma não violenta, pela autonomia do seu país. Essa sua causa valeu-lhe o Prémio Nobel da Paz, em 1989, prémio que deu uma maior, mas ainda assim, insuficiente visibilidade ao problema do Tibete. Muitos chefes de governo ocidentais rejeitam ainda hoje reconhecer Dailai Lama como um homólogo. Essa recusa prende-se sobretudo com o facto da China se apresentar actualmente como uma das economias em maior crescimento a nível mundial e de aquele país ser previsivelmente o país que partilhará com os Estados Unidos da América e com a União Europeia a liderança global ( a este respeito ler o artigo “A queda do império americano” que saiu na revista Courrier Internacional, número 146, de Abril de 2008). Assim sendo, a comunidade internacional, preocupada com possíveis relações comerciais com a China no futuro, não ousa pressionar o gigante económico que continua em crescimento, evitando a questão da violação dos direitos humanos, e quando confrontados com ela, e não lhe podendo escapar, abordam a questão com uma enorme precaução, procurando não tomar partido, embora por vezes revelem uma hipócrita e incolor preocupação. Enquanto isto se passa Pequim destrói a cultura tibetana de forma impune e defende-se afirmando que o Tibete conseguiu um impressionante crescimento económico sob o regime comunista.
No entanto, o fogo que Prometeu ofereceu aos humanos, e o sopro olímpico dos activistas dos direitos humanos e dos defensores da autonomia do Tibete na tentativa de o apagar, atearam um incêndio na comunicação social que deu nova exposição à situação que se vive naquele país. Face a este desenrolar de acontecimentos, o Parlamento Europeu, aprovou recentemente (por larga maioria) uma resolução através da qual solicita aos governos da União Europeia que boicotem a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, caso o Governo chinês não dê início a negociações com o Dalai Lama sobre a situação do Tibete. Neste novo quadro, os activistas dos direitos humanos continuam a acompanhar a tocha olímpica do outro lado do Atlântico, porém já não tentam apagá-la cientes de que se fizeram ouvir e de que, neste momento é importante não deixar esquecer o assunto, mas também não perder a credibilidade perante a opinião pública internacional.
Resta agora esperar que a União Europeia vinque a sua posição e que desse modo dê um contributo importante no sentido de solucionar a crise no Tibete.
“Depois de terem arrasado os quase 6000 mosteiros do Tibete, terem transformado os seus recintos sagrados em estábulos ou celeiros, de terem utilizado na construção de mictórios as tradicionais pedras inscritas com mantras, terem forçado milhares de monges e monjas a terem relações sexuais em público, terem queimado bibliotecas inteiras com manuscritos religiosos originais, terem blasfemado, insultado, ridicularizado e torturado centenas de homens santos que viviam em cavernas isoladas dedicados à oração, as autoridades chinesas ainda acreditam ter legitimidade para interferir no reconhecimento e escolha do novo Panchen Lama [ou Grande Sábio, segunda liderança religiosa no Tibete, logo depois do Dalai Lama] …”
Lia Diskin
In: Invasão do Tibete da Colecção Guerras e Religiões (Fonte principal deste artigo)
“O que está a acontecer nada tem de súbito. Mesmo nos blogues apertadamente censurados e outros “media” populares no Tibete, havia o sentimento de que a cólera crescia”.
“A luta tibetana perdurará por várias gerações, a menos que se encontre uma solução com o actual Dalai Lama.”
In: The Independent
Autor: Tsering Topgyal (autor tibetano que se encontra a preparar uma tese sobre o conflito sino-tibetano na London School Of Economics)
Artigo publicado em português na Revista Courrier Internacional de Abril de 2008
No entanto, oprimidos há mais de cinquenta anos pela República Popular da China, os tibetanos viram na viagem mundial da tocha olímpica uma oportunidade com um mediatismo impar para confrontar o Mundo com a situação que o seu país atravessa devido à ocupação chinesa, e às constantes violações dos direitos humanos que o seu povo sofre. Assim, ao passar por Londres e Paris a tocha olímpica teve um caminho penoso acompanhado por manifestantes que desejam obrigar o Mundo a não olhar para o lado quando se fala na crise do Tibete.
A ocupação chinesa iniciou-se em 1949. Em 1959, deu-se um levantamento tibetano que não consegui atingir o objectivo de libertar o país da ocupação chinesa. Pelo contrário, esse levantamento fragilizou a posição tibetana e consolidou a posição do governo comunista.
Desde o início da invasão, aproximadamente 1,2 milhões de tibetanos morreram, cerca de cem mil tibetanos, entre os quais Dailai Lama (Oceano de Sabedoria – o líder espiritual do povo tibetano) foram obrigados ao exílio na Índia, e mais de seis mil e duzentos mosteiros foram destruídos, restando apenas treze. Daí os protestos a que se tem assistido denunciarem, não só a invasão chinesa, a violação de direitos humanos, mas também o genocídio cultural, uma vez que a República Popular da China tem dirigido esforços também no sentido de enfraquecer tanto quanto possível a cultura e a religião tibetanas.
O Governo da República Popular da China afirma que o Tibete já fazia parte do seu território, porém, a verdade é que os Dalai Lamas governaram o país sem interferências chinesas até ao início do século XX.
O 14º Dalai Lama (Tenzin Gyatso) tem-se batido desde há meio século, de uma forma não violenta, pela autonomia do seu país. Essa sua causa valeu-lhe o Prémio Nobel da Paz, em 1989, prémio que deu uma maior, mas ainda assim, insuficiente visibilidade ao problema do Tibete. Muitos chefes de governo ocidentais rejeitam ainda hoje reconhecer Dailai Lama como um homólogo. Essa recusa prende-se sobretudo com o facto da China se apresentar actualmente como uma das economias em maior crescimento a nível mundial e de aquele país ser previsivelmente o país que partilhará com os Estados Unidos da América e com a União Europeia a liderança global ( a este respeito ler o artigo “A queda do império americano” que saiu na revista Courrier Internacional, número 146, de Abril de 2008). Assim sendo, a comunidade internacional, preocupada com possíveis relações comerciais com a China no futuro, não ousa pressionar o gigante económico que continua em crescimento, evitando a questão da violação dos direitos humanos, e quando confrontados com ela, e não lhe podendo escapar, abordam a questão com uma enorme precaução, procurando não tomar partido, embora por vezes revelem uma hipócrita e incolor preocupação. Enquanto isto se passa Pequim destrói a cultura tibetana de forma impune e defende-se afirmando que o Tibete conseguiu um impressionante crescimento económico sob o regime comunista.
No entanto, o fogo que Prometeu ofereceu aos humanos, e o sopro olímpico dos activistas dos direitos humanos e dos defensores da autonomia do Tibete na tentativa de o apagar, atearam um incêndio na comunicação social que deu nova exposição à situação que se vive naquele país. Face a este desenrolar de acontecimentos, o Parlamento Europeu, aprovou recentemente (por larga maioria) uma resolução através da qual solicita aos governos da União Europeia que boicotem a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, caso o Governo chinês não dê início a negociações com o Dalai Lama sobre a situação do Tibete. Neste novo quadro, os activistas dos direitos humanos continuam a acompanhar a tocha olímpica do outro lado do Atlântico, porém já não tentam apagá-la cientes de que se fizeram ouvir e de que, neste momento é importante não deixar esquecer o assunto, mas também não perder a credibilidade perante a opinião pública internacional.
Resta agora esperar que a União Europeia vinque a sua posição e que desse modo dê um contributo importante no sentido de solucionar a crise no Tibete.
“Depois de terem arrasado os quase 6000 mosteiros do Tibete, terem transformado os seus recintos sagrados em estábulos ou celeiros, de terem utilizado na construção de mictórios as tradicionais pedras inscritas com mantras, terem forçado milhares de monges e monjas a terem relações sexuais em público, terem queimado bibliotecas inteiras com manuscritos religiosos originais, terem blasfemado, insultado, ridicularizado e torturado centenas de homens santos que viviam em cavernas isoladas dedicados à oração, as autoridades chinesas ainda acreditam ter legitimidade para interferir no reconhecimento e escolha do novo Panchen Lama [ou Grande Sábio, segunda liderança religiosa no Tibete, logo depois do Dalai Lama] …”
Lia Diskin
In: Invasão do Tibete da Colecção Guerras e Religiões (Fonte principal deste artigo)
“O que está a acontecer nada tem de súbito. Mesmo nos blogues apertadamente censurados e outros “media” populares no Tibete, havia o sentimento de que a cólera crescia”.
“A luta tibetana perdurará por várias gerações, a menos que se encontre uma solução com o actual Dalai Lama.”
In: The Independent
Autor: Tsering Topgyal (autor tibetano que se encontra a preparar uma tese sobre o conflito sino-tibetano na London School Of Economics)
Artigo publicado em português na Revista Courrier Internacional de Abril de 2008
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