Um som agudo invadiu a sala acompanhado pelo ruído de uma insistente vibração. A personagem acordou estremunhada. Olhou em volta e viu o telemóvel de Afonso em cima da mesa que se encontrava encostada ao sofá, o ecrã piscava e o telemóvel girava compassadamente sobre si mesmo à medida que ia vibrando. Sentou-se no sofá e pegou no pequeno telemóvel. No ecrã viu que se tratava de uma chamada. Depois olhou para o corredor que dava para o quarto de Afonso, mas Afonso não parecia ter acordado. Acendeu o candeeiro e levantou-se. Esfregou os olhos. O telemóvel deixou de tocar. A personagem olhou em volta procurando algum relógio ou aparelho onde pudesse ver as horas. Encontrou na parede atrás do sofá um relógio de cuco que marcava cinco horas e vinte e três minutos da madrugada. Logo de seguida o telemóvel recomeçou a tocar. Olhou para o ecrã que piscava e leu “chamada: Eduarda”. Voltou a sentar-se. Pousou o telemóvel sobre a mesa, deitou-se novamente e ficou à espera de ver Afonso surgir no fundo do corredor. Afonso não surgia. Nem sequer se ouvia a sua cama fazer qualquer ruído indicando que Afonso se tivesse levantado, ou apenas mexido. A vibração do telemóvel e o som agudo do toque incomodavam um silêncio puro. Pouco depois o telemóvel voltou a ficar imóvel devolvendo a quietude à madrugada. A personagem voltou a olhar para ele. Passou as mãos pelo cabelo comprido, depois colocou os cotovelos sobre joelhos e escondeu a cara nas mãos, tentando guardar o sono e resistir à possibilidade de despertar. Depois pensou… O que devo fazer? Ele não acorda… Mas quem será que lhe está a ligar a uma hora destas?... Será que aconteceu alguma coisa? Devo acordá-lo? Nem sei se ele me ouvirá….
Logo de seguida o telemóvel voltou a rodopiar sobre a mesa. A personagem levantou-se… Pensou: Tenho de tentar acordá-lo, e dirigiu-se para o corredor onde ficava o quarto de Afonso. O quarto de Afonso ficava logo na primeira porta à direita. A personagem abriu a porta com cuidado, encostou-se à ombreira e ficou um breve momento a olhar para Afonso que dormia profundamente. O telemóvel continuava a tocar. Então a personagem avançou lentamente na direcção de Afonso, sentou-se ao seu lado num movimento suave, e o telemóvel voltou a calar-se. Ficou então de novo sem saber se devia ou não acordar aquele homem que dormia como uma criança exausta depois de um dia cheio de corridas e aventuras sonhadas. Hesitou. Decidiu não o acordar. E ficou mais um pouco a olhar para Afonso. Que calma que aquele respirar profundo de quem dorme como se o mundo tivesse parado, suspenso algures no Universo, transmitia. Mas pouco depois o toque do telemóvel regressou e quebrou de novo a paz completa daquele momento. A personagem decidiu-se. “Tem de ser”, pensou. Colocou a mão suavemente no ombro de Afonso, moveu a mão devagar, e disse-lhe ao ouvido: “Acorda, o teu telemóvel está a tocar…”. Afonso não se mexeu. Pronunciou apenas um “huuum” ensonado. A personagem insistiu… “Acorda…” Afonso respondeu: Diz Leonor. Mas não abriu os olhos. Estaria a sonhar? Perguntou-se a personagem. “O teu telemóvel… está a tocar…” Afonso abriu os olhos. A personagem sorriu embora ele não a tenha visto. Então reconheceu o toque do seu telemóvel. Fechou os olhos, voltou a abri-los. O telemóvel voltou a ficar em silêncio. Afonso pensou: “Quem será a esta hora?”. Olhou para o despertador que tinha em cima da mesa-de-cabeceira. “São quase cinco e meia… Quem é que me estará a ligar a esta hora… Que raio…”. Então acendeu o candeeiro, sentou-se na cama para ganhar coragem para se levantar. A personagem olhava para ele, sentada no rebordo da cama, e agradecia o facto de não poder ser vista. Era engraçado ser invisível, Afonso não dar pela sua presença.
O telemóvel voltou a tocar. Afonso suspirou, finalmente recuperou as forças e saiu da cama pelo lado contrário ao que a personagem se encontrava sentada e dirigiu-se para a sala. A personagem estava intrigada. No entanto, deixou-se cair e ficou deitada um segundo na cama de Afonso, com a cabeça sobre a sua almofada. Ouviu o telemóvel calar-se de novo, e Afonso dizer: “Sim Eduarda…”, e de seguida ouviu os passos de Afonso que voltava para o quarto. A personagem não se mexeu.
Do outro lado do telefone Eduarda esforçava-se para pronunciar cada palavra que dizia. Chorava compulsivamente, e Afonso tentava perceber o que Eduarda lhe queria dizer. “Calma Eduarda… Diz-me o que se passa…” disse Afonso calmamente. “O Jorge, Afonso… O Jorge morreu…” disse Eduarda do outro lado. Afonso sentiu as forças fugirem-lhe do corpo de repente. Caiu sentado na cama. Depois respondeu: “Não percebi Eduarda… O Jorge o quê?...”. “Morreu Afonso, o Jorge acabou de morrer…” – disse Eduarda com dificuldades. Afonso não conseguiu dizer o que quer que fosse. Logo de seguida, ouviu Eduarda dizer: “Estou no Hospital de Santa Maria, por favor vem ter comigo…”. “Vou imediatamente” - respondeu Afonso sem pensar.
A personagem apercebeu-se que Afonso tinha ficado perturbado durante a chamada. Afonso assim que desligou o telemóvel deixou-se cair para trás, incrédulo, branco, sem reacção… Não acreditava no que tinha acabado de ouvir, não queria acreditar que estivesse acordado…
A personagem levantou-se, procurou a cozinha, no armário encontrou copos, encheu um copo de água e trouxe a Afonso. Afonso não reparou que um copo tinha viajado no ar, da cozinha à sua mesa-de-cabeceira. Não se mexia. A sua respiração estava agitada, tinha os olhos muito abertos, e cheios de água, fixos no tecto do seu quarto.
A personagem ficou um momento a olhar para ele preocupada. Não sabia o que fazer. Depois sentou-se ao seu lado, virada para ele. Finalmente, não resistiu e chamou-o:
- Afonso… - Afonso ouviu a personagem mas não respondeu. Estava atónito… A personagem insistiu:
- Afonso… - Afonso fechou os olhos e pouco depois respondeu;
- Diz Leonor… - A personagem ficou surpreendida por Afonso lhe ter chamado Leonor. Desta vez não havia dúvidas, ele já não estava a dormir, não podia estar a sonhar, Leonor era o nome que ele decidira dar-lhe, sentiu-se feliz, mas não teve tempo para gozar esse sentimento. Estava demasiado preocupada.
- Está tudo bem?...
- Leonor… O meu irmão morreu. Era a minha cunhada…. – E dos olhos de Afonso começaram a correr lágrimas. – A personagem pousou a mão sobre a mão de Afonso. Ambos ficaram um pouco em silêncio.
Logo de seguida o telemóvel voltou a rodopiar sobre a mesa. A personagem levantou-se… Pensou: Tenho de tentar acordá-lo, e dirigiu-se para o corredor onde ficava o quarto de Afonso. O quarto de Afonso ficava logo na primeira porta à direita. A personagem abriu a porta com cuidado, encostou-se à ombreira e ficou um breve momento a olhar para Afonso que dormia profundamente. O telemóvel continuava a tocar. Então a personagem avançou lentamente na direcção de Afonso, sentou-se ao seu lado num movimento suave, e o telemóvel voltou a calar-se. Ficou então de novo sem saber se devia ou não acordar aquele homem que dormia como uma criança exausta depois de um dia cheio de corridas e aventuras sonhadas. Hesitou. Decidiu não o acordar. E ficou mais um pouco a olhar para Afonso. Que calma que aquele respirar profundo de quem dorme como se o mundo tivesse parado, suspenso algures no Universo, transmitia. Mas pouco depois o toque do telemóvel regressou e quebrou de novo a paz completa daquele momento. A personagem decidiu-se. “Tem de ser”, pensou. Colocou a mão suavemente no ombro de Afonso, moveu a mão devagar, e disse-lhe ao ouvido: “Acorda, o teu telemóvel está a tocar…”. Afonso não se mexeu. Pronunciou apenas um “huuum” ensonado. A personagem insistiu… “Acorda…” Afonso respondeu: Diz Leonor. Mas não abriu os olhos. Estaria a sonhar? Perguntou-se a personagem. “O teu telemóvel… está a tocar…” Afonso abriu os olhos. A personagem sorriu embora ele não a tenha visto. Então reconheceu o toque do seu telemóvel. Fechou os olhos, voltou a abri-los. O telemóvel voltou a ficar em silêncio. Afonso pensou: “Quem será a esta hora?”. Olhou para o despertador que tinha em cima da mesa-de-cabeceira. “São quase cinco e meia… Quem é que me estará a ligar a esta hora… Que raio…”. Então acendeu o candeeiro, sentou-se na cama para ganhar coragem para se levantar. A personagem olhava para ele, sentada no rebordo da cama, e agradecia o facto de não poder ser vista. Era engraçado ser invisível, Afonso não dar pela sua presença.
O telemóvel voltou a tocar. Afonso suspirou, finalmente recuperou as forças e saiu da cama pelo lado contrário ao que a personagem se encontrava sentada e dirigiu-se para a sala. A personagem estava intrigada. No entanto, deixou-se cair e ficou deitada um segundo na cama de Afonso, com a cabeça sobre a sua almofada. Ouviu o telemóvel calar-se de novo, e Afonso dizer: “Sim Eduarda…”, e de seguida ouviu os passos de Afonso que voltava para o quarto. A personagem não se mexeu.
Do outro lado do telefone Eduarda esforçava-se para pronunciar cada palavra que dizia. Chorava compulsivamente, e Afonso tentava perceber o que Eduarda lhe queria dizer. “Calma Eduarda… Diz-me o que se passa…” disse Afonso calmamente. “O Jorge, Afonso… O Jorge morreu…” disse Eduarda do outro lado. Afonso sentiu as forças fugirem-lhe do corpo de repente. Caiu sentado na cama. Depois respondeu: “Não percebi Eduarda… O Jorge o quê?...”. “Morreu Afonso, o Jorge acabou de morrer…” – disse Eduarda com dificuldades. Afonso não conseguiu dizer o que quer que fosse. Logo de seguida, ouviu Eduarda dizer: “Estou no Hospital de Santa Maria, por favor vem ter comigo…”. “Vou imediatamente” - respondeu Afonso sem pensar.
A personagem apercebeu-se que Afonso tinha ficado perturbado durante a chamada. Afonso assim que desligou o telemóvel deixou-se cair para trás, incrédulo, branco, sem reacção… Não acreditava no que tinha acabado de ouvir, não queria acreditar que estivesse acordado…
A personagem levantou-se, procurou a cozinha, no armário encontrou copos, encheu um copo de água e trouxe a Afonso. Afonso não reparou que um copo tinha viajado no ar, da cozinha à sua mesa-de-cabeceira. Não se mexia. A sua respiração estava agitada, tinha os olhos muito abertos, e cheios de água, fixos no tecto do seu quarto.
A personagem ficou um momento a olhar para ele preocupada. Não sabia o que fazer. Depois sentou-se ao seu lado, virada para ele. Finalmente, não resistiu e chamou-o:
- Afonso… - Afonso ouviu a personagem mas não respondeu. Estava atónito… A personagem insistiu:
- Afonso… - Afonso fechou os olhos e pouco depois respondeu;
- Diz Leonor… - A personagem ficou surpreendida por Afonso lhe ter chamado Leonor. Desta vez não havia dúvidas, ele já não estava a dormir, não podia estar a sonhar, Leonor era o nome que ele decidira dar-lhe, sentiu-se feliz, mas não teve tempo para gozar esse sentimento. Estava demasiado preocupada.
- Está tudo bem?...
- Leonor… O meu irmão morreu. Era a minha cunhada…. – E dos olhos de Afonso começaram a correr lágrimas. – A personagem pousou a mão sobre a mão de Afonso. Ambos ficaram um pouco em silêncio.
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