segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Entrevista: Francisco Vaz Fernandes director da revista Parq

Como nasceu a ideia de criar a Parq?
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Nasceu de condições adversas. Basicamente a equipa de trabalho da Parq saiu da Dif, que eu fundei e dirigi durante cinco anos, que ao longo do tempo tornou-se uma experiência negativa porque nos sentimos roubados e enganados. Daí que a equipa que inclui uma rede de colaboradores fiéis tenham querido continuar este projecto original tomando um outro caminho. Já tínhamos um espaço muito próprio na história na área das revistas independentes, estamos a actualizar-nos segundo novas necessidades dos leitores, acreditamos que será mais um marco no nosso percurso.
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Como descreverias o trabalho que desenvolveram até agora, como tem sido concretizar o vosso projecto?
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Preferia dar uma explicação poética que faz sentido para toda a equipa. A Parq é uma revista que procura uma nova luminosidade e leveza que dê sentido às nossas vidas e nos liberte de fardos, para que sejamos cada vez mais nós. Esse é um nós “português” a caminho da nossa essência e da particularidade com que olhamos o mundo. Procurando o nosso lugar no mundo, admitimos numa visão do sul com relações privilegiadas à cultura Ibérica, mediterrânica, africana e brasileira.
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Têm tido feedback por parte dos leitores da Parq?
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Temos bastantes. Ao início bastante dispares. Confesso que nos ajudaram bastante a moldar e consolidar o projecto. Queriam uma revista nova e só tivemos que seguir as suas exigências de forma a estarmos mais perto das suas necessidades.
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Podemos falar numa ideologia Parq, numa Parqology, isto é, em num conjunto de novas ideias com o cunho Parq? Se sim, como se caracteriza essa ideologia?
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Novas ideias não diria, mas provavelmente um perfil de ideias avulsas, ou de ideias de vida que tentamos amarrar para tornar este projecto mais singular. Na verdade queremos falar das nossas vidas e de outras pessoas que são iguais à vida dos nossos leitores. Estamos igualmente preocupados com o nosso futuro e acreditamos que com um pouco de criatividade e motivação vamos chegar a qualquer lado. Entretanto vamo-nos divertindo para aligeirar o peso das nossas vidas. A vida em espaços públicos, nomeadamente parques verdes e troca de ideias parece-nos a combinação perfeita para esta década. É preciso requalificar o espaço público para que seja de todos.
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A Parq divide-se por secções: Real People, You Must, Soundstation, Viewpoint, Central Parq, Moda e Parq Here. O que podemos encontrar em cada uma destas secções?
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São secções que nos ajudam a organizar os conteúdos. Na verdade, procuramos ser uma revista diferente, sem umcerto carácter de ilusionismo. Gostamos de um certo realismo, daí que procuramos uma certa proximidade com os entrevistados. Também procuramos ter textos desenvolvidos com um certo carácter mais social e político. Tudo isso doseado com um pouco de fantasia e humor porque também não nos podemos levar muito a sério.
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Para além do site da Parq, onde podem os leitores encontrar a Parq?
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Temos à volta de 500 pontos de distribuição repartidos por GrandeLisboa, Porto, Coimbra, Aveiro, Leiria, Caldas, Évora. Em Setembro chegamos a Braga, Faro, Lagos.
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Se fosse possível questionar a generalidade dos vossos leitores sobre o vosso trabalho, que perguntas lhes fariam?
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Preferia que nos colocassem questões ou no mínimo que estivéssemos num diálogo mais efectivo. E de certa forma esse diálogo existe, pela quantidade de propostas de colaborações que recebemos. Cada proposta é uma forma diferente de entender o projecto que não responde a uma visão monolítica da coordenação. Apenas criamos balizas mas que dão espaço suficiente para que colaboradores e leitores possam expressar as suas formas de ser.
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Reparei que no editorial da Parq de Junho manifestas o desejo de não seguir modelos estereotipados organizados por interesses comerciais, e afirmas mesmo que de contrário uma revista não pode sobreviver ao desinteresse do leitor. De que modo se pode escapar a esses modelos estereotipados de que falas, que dificuldades antevês que possam advir de não seguir essa linha submetida a interesses económicos?
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Espero não ser mal interpretado. Obviamente, são as questões económicas que acabam por tecer o nosso tecido social em que vivemos. Elas estão sempre presentes. As revistas gratuitas e pagas estão cada vez mais dependentes das receitas das inserções publicitárias que obviamente condicionam os conteúdos. Por isso não seria de estranhar que Corine Roitfeld desabafasse o enjoo que lhe provocam os milhares de malinhas e saquinhos que aparecem na Vogue. É como se o mundo estivesse reduzido a acessórios. Porque se tem que dar cada vez mais do mesmo o público deixade ter qualquer interesse pelo conteúdo das revistas em geral. Se olharmos para uma Vogue francesa dos anos 60 ou 70 percebemos como havia ideais a combater, como cada número eram de facto inovador e surpreendente. Havia colaborações com escritores, intelectuais, o que dava uma outra dimensão social às revistas dessa época.
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Agora que a Parq vai de férias e volta em Setembro cabe desejar-vos umas boas férias e finalizar esta entrevista perguntando que desejos gostarias de ver realizados num futuro próximo no que toca a Parq?
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Que a revista cresça no sentido de formar uma comunidade parq.
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O autor deste blog agradece a disponibilidade de Francisco Vaz Fernandes e a simpatia com que colaborou com Esta Versão dos Factos para a realização desta entrevista.
Agradece ainda a Jorge Lemos Peixoto a permissão para que aqui fossepublicado o seu texto “O Peter Pan traído”.
Por fim congratula todas as pessoas que, num trabalho conjunto, contribuem para que a Parq possa chegar aos seus leitores todos os meses, pelo bom trabalho que têm desenvolvido e desejar felicidades na prossecução deste projecto.

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