Todos passamos por fases menos fáceis na vida, períodos mais complicados, em que somos postos à prova, colocando-nos a vida perante adversidades que por vezes nos fazem duvidar das nossas capacidades, da nossa força, e que nos podem levar a pensar que não conseguiremos ultrapassar certo obstáculo, e que mais vale desistir.
Há pouco tempo passei uma fase dessas, e por ter a sorte de estar rodeado de pessoas (e livros) interessantes, aprendi algumas coisas que me ajudaram a ter força e que me motivaram. Para não me esquecer do que me ensinaram deixo aqui esta versão dos factos (estas [6] notas sobre auto-motivação), esperando que ela também seja útil a alguém que, por acaso, a leia.
1. À mesa de um café, falava com um dos meus irmãos mais velhos, sobre a fase que enfrentava, e as dificuldades que estava a ter em ultrapassar os obstáculos com que me deparava. Ele sorriu e começou a contar-me que em Maio de 1987 o
Futebol Clube do Porto jogou a final da Taça dos Campeões, em Viena, contra o FC Bayern München, o "gigante" bávaro. Ao intervalo o Futebol Clube do Porto perdia por 1-0. Durante o intervalo Artur Jorge juntou-se com os seus jogadores no balneário e passou quase a totalidade do intervalo num tenso silêncio. Antes de os jogadores saírem do balneário para voltarem ao campo, Artur Jorge disse-lhes apenas quatro palavras: “Amanhã não há mais”.
Talves por sentir que os sonhos têm um limite de tempo máximo para serem alcançados os jogadores do Futebol Clube do Porto fizeram uma segunda parte brilhante, Madjer empatou o jogo aos 77 minutos, com um golo extraordinário de calcanhar, e quatro minutos depois Juary fez o segundo golo para o Porto, golo que conduziu o clube português à vitória da Taça dos Clubes Campeões Europeus.
O que desejamos tem um prazo para ser alcançado, não devemos perder tempo, e não nos podemos intimidar por dificuldades, é necessário ter presente que amanhã pode já não ser possível lutar pelos nossos sonhos.
2. Na mesma ou noutra conversa sobre o mesmo assunto, o meu irmão disse-me que alguém que lhe é muito querido um dia lhe tinha ensinado que: “o único sítio onde sucesso vem antes do trabalho é no dicionário”.
3. Num livro que li, encontrei uma frase curiosa, cuja autoria é atribuída a
Nietzsche e que dizia que: “A vontade não tem poder para querer no passado.”
4.
Saint-Exupéry conta no seu livro Terra dos Homens a história de um seu amigo e colega que se chamava Guillaumet, e que certo dia desapareceu durante uma travessia dos
Andes. Ao cabo de 50 horas e apesar das buscas, nas quais participaram dois aviões (um dos quais pilotado por Saint-Exupéry) não havia sinal do piloto desaparecido, e sem esse sinal a esperança de o encontrar com vida ia também morrendo. As buscas pararam ao fim de cinco dias. Sete dias depois do desaparecimento do pequeno avião de Guillaumet, “enquanto [Saint-Exupéry] tomava um almoço frugal entre dois voos, num restaurante de Mendonza, um homem empurrou a porta e gritou, oh, coisa pouca: «Guillaumet....... vivo!.... » …”
Lembro-me de antes de ter lido o livro ter visto um pequeno filme sobre esta história, contada por Saint-Exupéry, no Futuroscope. No filme via-se Guillaumet a caminhar nos Andes e de cada vez que dava um passo repetia em voz alta para si próprio: “je marche, je marche…”. No livro “Terra dos Homens” Saint-Exupérie refere que Guillaumet lhe confidenciou que nessa altura pensava que “a salvação é dar um passo. Mais um passo. É sempre o mesmo passo que se recomeça”.
E assim me ensinaram Guillaumet e Saint-Exupéry que não podemos parar de andar (ou correr se possível) em direcção ao que realmente queremos.
5.
Philips Brooks escreveu um dia: “Nunca ore suplicando cargas mais leves, e sim ombros mais fortes”.
6.
Bertold Brecht escreveu um dia:
“Há homens que lutam um dia – e são bons.
Há homens que lutam um ano – e são melhores.
Há homens que lutam muitos anos – e são muito bons.
Porém há homens que lutam toda a vida – estes são os imprescindíveis.”
Eis o que apreendi. Penso que reflectir sobre o que ficou dito pode ajudar na nossa auto-motivação.
Um agradecimento especial ao meu irmão, por raro ser o dia que estamos juntos que não me ensine qualquer coisa, que motiva a apreender cada vez mais, e que neste caso concreto, mais do que apenas por palavras me ensinou pelo exemplo, à semelhança do que fizeram os meus outros irmãos.