sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Tons que tocam

Intérprete: Ana Moura

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Masterpiece (Fascículo IV)

Um som agudo invadiu a sala acompanhado pelo ruído de uma insistente vibração. A personagem acordou estremunhada. Olhou em volta e viu o telemóvel de Afonso em cima da mesa que se encontrava encostada ao sofá, o ecrã piscava e o telemóvel girava compassadamente sobre si mesmo à medida que ia vibrando. Sentou-se no sofá e pegou no pequeno telemóvel. No ecrã viu que se tratava de uma chamada. Depois olhou para o corredor que dava para o quarto de Afonso, mas Afonso não parecia ter acordado. Acendeu o candeeiro e levantou-se. Esfregou os olhos. O telemóvel deixou de tocar. A personagem olhou em volta procurando algum relógio ou aparelho onde pudesse ver as horas. Encontrou na parede atrás do sofá um relógio de cuco que marcava cinco horas e vinte e três minutos da madrugada. Logo de seguida o telemóvel recomeçou a tocar. Olhou para o ecrã que piscava e leu “chamada: Eduarda”. Voltou a sentar-se. Pousou o telemóvel sobre a mesa, deitou-se novamente e ficou à espera de ver Afonso surgir no fundo do corredor. Afonso não surgia. Nem sequer se ouvia a sua cama fazer qualquer ruído indicando que Afonso se tivesse levantado, ou apenas mexido. A vibração do telemóvel e o som agudo do toque incomodavam um silêncio puro. Pouco depois o telemóvel voltou a ficar imóvel devolvendo a quietude à madrugada. A personagem voltou a olhar para ele. Passou as mãos pelo cabelo comprido, depois colocou os cotovelos sobre joelhos e escondeu a cara nas mãos, tentando guardar o sono e resistir à possibilidade de despertar. Depois pensou… O que devo fazer? Ele não acorda… Mas quem será que lhe está a ligar a uma hora destas?... Será que aconteceu alguma coisa? Devo acordá-lo? Nem sei se ele me ouvirá….
Logo de seguida o telemóvel voltou a rodopiar sobre a mesa. A personagem levantou-se… Pensou: Tenho de tentar acordá-lo, e dirigiu-se para o corredor onde ficava o quarto de Afonso. O quarto de Afonso ficava logo na primeira porta à direita. A personagem abriu a porta com cuidado, encostou-se à ombreira e ficou um breve momento a olhar para Afonso que dormia profundamente. O telemóvel continuava a tocar. Então a personagem avançou lentamente na direcção de Afonso, sentou-se ao seu lado num movimento suave, e o telemóvel voltou a calar-se. Ficou então de novo sem saber se devia ou não acordar aquele homem que dormia como uma criança exausta depois de um dia cheio de corridas e aventuras sonhadas. Hesitou. Decidiu não o acordar. E ficou mais um pouco a olhar para Afonso. Que calma que aquele respirar profundo de quem dorme como se o mundo tivesse parado, suspenso algures no Universo, transmitia. Mas pouco depois o toque do telemóvel regressou e quebrou de novo a paz completa daquele momento. A personagem decidiu-se. “Tem de ser”, pensou. Colocou a mão suavemente no ombro de Afonso, moveu a mão devagar, e disse-lhe ao ouvido: “Acorda, o teu telemóvel está a tocar…”. Afonso não se mexeu. Pronunciou apenas um “huuum” ensonado. A personagem insistiu… “Acorda…” Afonso respondeu: Diz Leonor. Mas não abriu os olhos. Estaria a sonhar? Perguntou-se a personagem. “O teu telemóvel… está a tocar…” Afonso abriu os olhos. A personagem sorriu embora ele não a tenha visto. Então reconheceu o toque do seu telemóvel. Fechou os olhos, voltou a abri-los. O telemóvel voltou a ficar em silêncio. Afonso pensou: “Quem será a esta hora?”. Olhou para o despertador que tinha em cima da mesa-de-cabeceira. “São quase cinco e meia… Quem é que me estará a ligar a esta hora… Que raio…”. Então acendeu o candeeiro, sentou-se na cama para ganhar coragem para se levantar. A personagem olhava para ele, sentada no rebordo da cama, e agradecia o facto de não poder ser vista. Era engraçado ser invisível, Afonso não dar pela sua presença.
O telemóvel voltou a tocar. Afonso suspirou, finalmente recuperou as forças e saiu da cama pelo lado contrário ao que a personagem se encontrava sentada e dirigiu-se para a sala. A personagem estava intrigada. No entanto, deixou-se cair e ficou deitada um segundo na cama de Afonso, com a cabeça sobre a sua almofada. Ouviu o telemóvel calar-se de novo, e Afonso dizer: “Sim Eduarda…”, e de seguida ouviu os passos de Afonso que voltava para o quarto. A personagem não se mexeu.
Do outro lado do telefone Eduarda esforçava-se para pronunciar cada palavra que dizia. Chorava compulsivamente, e Afonso tentava perceber o que Eduarda lhe queria dizer. “Calma Eduarda… Diz-me o que se passa…” disse Afonso calmamente. “O Jorge, Afonso… O Jorge morreu…” disse Eduarda do outro lado. Afonso sentiu as forças fugirem-lhe do corpo de repente. Caiu sentado na cama. Depois respondeu: “Não percebi Eduarda… O Jorge o quê?...”. “Morreu Afonso, o Jorge acabou de morrer…” – disse Eduarda com dificuldades. Afonso não conseguiu dizer o que quer que fosse. Logo de seguida, ouviu Eduarda dizer: “Estou no Hospital de Santa Maria, por favor vem ter comigo…”. “Vou imediatamente” - respondeu Afonso sem pensar.
A personagem apercebeu-se que Afonso tinha ficado perturbado durante a chamada. Afonso assim que desligou o telemóvel deixou-se cair para trás, incrédulo, branco, sem reacção… Não acreditava no que tinha acabado de ouvir, não queria acreditar que estivesse acordado…
A personagem levantou-se, procurou a cozinha, no armário encontrou copos, encheu um copo de água e trouxe a Afonso. Afonso não reparou que um copo tinha viajado no ar, da cozinha à sua mesa-de-cabeceira. Não se mexia. A sua respiração estava agitada, tinha os olhos muito abertos, e cheios de água, fixos no tecto do seu quarto.
A personagem ficou um momento a olhar para ele preocupada. Não sabia o que fazer. Depois sentou-se ao seu lado, virada para ele. Finalmente, não resistiu e chamou-o:
- Afonso… - Afonso ouviu a personagem mas não respondeu. Estava atónito… A personagem insistiu:
- Afonso… - Afonso fechou os olhos e pouco depois respondeu;
- Diz Leonor… - A personagem ficou surpreendida por Afonso lhe ter chamado Leonor. Desta vez não havia dúvidas, ele já não estava a dormir, não podia estar a sonhar, Leonor era o nome que ele decidira dar-lhe, sentiu-se feliz, mas não teve tempo para gozar esse sentimento. Estava demasiado preocupada.
- Está tudo bem?...
- Leonor… O meu irmão morreu. Era a minha cunhada…. – E dos olhos de Afonso começaram a correr lágrimas. – A personagem pousou a mão sobre a mão de Afonso. Ambos ficaram um pouco em silêncio.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Feeling Lazy




O Mundo e Mugabe

Já é bem conhecida a situação social e política que o Zimbabué vive desde alguns meses antes das eleições presidenciais que tiveram lugar este ano, mas não me parece de mais contar esta história da minha perspectiva n’esta versão dos factos.
A personagem principal desta história é um vilão, Robert Mugabe, que governa o país há 28 anos, pela única forma de se governar um país durante tanto tempo, através de uma ditadura.
Entretanto surgiu uma personagem que desempenha o papel de salvador de um país, e que trouxe a esperança da sua libertação, pela pessoa de Morgan Tsvangirai, tendo este ganho a primeira volta das eleições presidenciais pelo MDC (Movimento pela Mudança Democrática – princípal partido da oposição).
No entanto, entre a realização da primeira e da segunda volta das eleições, Mugabe, à cautela, trocidou (em muitos casos literalmente, recorde-se que durante este período terão sido assassinados 122 militantes do MDC) a oposição. Mandou torturar e matar apoiantes e militantes do MDC, e o exército e as mílicias daquele país cumpriram as ordens que pelo terror que criaram conseguiram levar Morgan Tsvangirai a desistir das eleições, não só por receio e para proteger os seus, mas também para denunciar claramente a ilegitimidade daquelas eleições ao Mundo.
Mugabe esfregou as mãos de contente e o Mundo avisou-o de que não aceitaria o resultado daquelas eleições, pelo que não reconheceria a sua legitimidade como presidente daquele país. A comunidade internacional pressionou fortemente o presidente ditador, como todos assistimos, e Mugabe, de tão pressionado que andou deve ter andado perto da mais profunda depressão...
No país manda ele, e dispõe inclusivamente sobre quem merece viver e quem não merece outra sorte que a morte, discreta, como se quer, e tanto quanto se consiga, mas cruel o suficiente para dar o exemplo. Dispõe igualmente sobre como devem pensar aqueles a quem ele permite viver e incumbe, volta e meia, o exército de explicar ou relembrar às populações (pelas formas e estratégias conhecidas) de que forma devem pensar, ou onde por a cruz no boletim de voto, como se viu, entre outras explicações que o energúmeno povo volta e meia precisa para permitir que um país ande para diante.
E a comunidade internacional, essa suma entidade que assume a hercúlea tarefa de zelar pelo bem maior de todo o mundo em geral, e de cada país em particular, fez o seu papel. E “papel” foi uma palavra bem escolhida, uma vez que se estamos a falar do teatro internacional e das suas personagens. Por um lado, tem de defender os Direitos Humanos que tão bem soube proclamar, sob pena de haver prejuízo para a sua imagem, dadas as constantes violações que lhes são feitas, ainda por cima, registadas por câmaras de televisão que, para o bem e para o mal, são os olhos do Mundo. Assim, não pôde a comunidade internacional permanecer complacente, com uma imagem serena, e dizer ao Mundo que se deixe de ingenuidades e utopias, existem sim Direitos Humanos, mas estes são, ainda, apenas, direitos do Homem do primeiro mundo, chamámos-lhe Declaração Universal porque alguém achou mais pomposo. Não… Não pode fazer isto, a política também tem os seus impossíveis. Tem de se ver uma atitude de repulsa por parte dos líderes mundiais, como se viu, e convém até que essas imagens ocupem mais espaço nos telejornais do que o linchamento e o funeral dos apoiantes do MDC, das vítimas de Mugabe, é que como é sabido, os olhos do Mundo também são impressionáveis e não toleram olhar com demasiada atenção, nem durante imoderado tempo para obscenidades e desgraças destas, preferindo, como acontece determinadas vezes, focar-se antes, como subterfúgio, em hipocrisias e boas intenções, das quais, não devemos esquecer, também o Diabo está cheio.
Então lá se tomaram medidas, porque os líderes mundiais são homens de acção. Decidiram não reconhecer a legitimidade de um dirigente de um Estado a quem ninguém (excepto, os países africanos, uma vez que são seus vizinhos e podem sofrer consequências a vários níveis da crise do Zimbabué) reconhece qualquer importância no panorama político-económico mundial, ainda que o homem, o vil ditador, continue a pôr e dispor conforme quer no país que governa há 28 anos, e cuja Administração, ao que parece, coube ao Diabo, quando Deus e o Satanás repartiram os países a fim de definirem que países ficariam sob sua Administração respectivamente (segundo parece, Deus ficou responsável por um maior número de países situados no norte do Mundo, e o Diabo com um maior número de países no sul do Mundo, mas estas são considerações que aqui não cabe desenvolver).
De qualquer forma, podia acontecer que os líderes mundiais levantassem mais a voz, uma vez que estas questões lhes tiram o sono, e uma pessoa que não durma sofre por norma de uma dose de irritação mais elevada, e impusessem ao Zimbabué algumas sanções económicas durante algum tempo, visando fragilizar a posição do ditador. Contudo, não é líquido que isto aconteça. A questão cairá no esquecimento dentro em breve, se é que não caiu já, e é incontestável a enorme dificuldade de saber se não se prejudica com estas medidas mais o povo do que o regime e o ditador, que é como quem diz, se não paga mais uma vez o justo pelo ditador.
Quanto a enviar uma força armada internacional de paz por todos os motivos e mais alguns não foi uma hipótese colocada em cima da mesa. Quanto a mim, ainda bem, dado que uma boa decisão pode ser uma má decisão quando tomada pelos motivos errados.
A meu ver, não encontrou a comunidade internacional, interesses que justifiquem uma intervenção militar de paz, o que parece um contra senso mas é verdade, uma vez que as forças de paz são forças militares, e doutra maneira não poderia ser, pois do lado dos vilões há sempre armas quanto baste, ou muitos bolsos não andariam a transbordar de dinheiro (mas deixemos estas questões laterais), e como forças militares são demasiado dispendiosas tendo em conta o fim a que se destinariam.
O Zimbabué não terá muito para oferecer a quem o libertar, e o libertador não encontrará com o que se pagar da sua meritória e altruísta intervenção.
Há é certo uma democracia por implantar, mas essa servirá apenas aqueles que através dela poderem viver e votar livremente (e esperemos que mais livremente que os Irlandeses para quem haverá provavelmente uma segunda volta, de modo a que, depois de reflectirem, possam livremente votar no Sim ao Tratado de Lisboa, como a diligente Europa lhes está a tentar ensinar).
Quanto a mim, também pouco mais há a fazer do que deixar o país arder como inferno em que se tornou… Sei que é uma opinião que parece despropositada, mas a verdade é que defendo que se não é admissível a imposição de uma ditadura a um povo, também não acho que seja desejável que a democracia seja imposta por uma comunidade internacional que, segundo penso, não tem qualquer legitimidade para interferir no futuro de um país (como não tinha no Iraque, entre outros exemplos em que o nosso tempo é rico, mas nesses casos houve interesses político-económicos que sustentaram o gesto que não tem preço de oferecer a uma nação a democracia).
Não gostava de ser mal interpretado e de passar a ideia de que deve o povo do Zimbabué ser votado ao abandono e deixado à mercê de Mugabe. O que penso é que do mal das ditaduras devem ser os próprios povos por elas subjugados a libertarem-se. É, em minha humilde opinião, um processo de crescimento de um país. É o povo que tem que dizer não à ditadura, é o povo que tem que derrotar Mugabe (se não o fizer, entretanto o fim dos seus dias também chegará). Terão de nascer revolucionários, novas correntes de pensamento, gente de convicções, mártires, companheiros, combatentes da opressão, soldados civis que se disponham a lutar por um futuro melhor, ainda que o preço dessa luta possa ser a própria vida, gente de esperança, generais sem medo, e gente rara como esta, para que o Zimbabué se liberte e não deva a sua libertação a mais ninguém que a si mesmo, ao contrário do que acontece com o agora “democrático, pacifico e estável” Iraque.
Entretanto projectam-se acordos para que o agora generoso ditador possa delegar o Governo ao salvador Morgan Tsvangirai, mas esses acordos têm falhado. O ditador pretende não ser julgado pelos seus crimes, e provavelmente conseguirá escapar às malhas da justiça, mas como não estou a par dos últimos desenvolvimentos mais não posso contar. Outro dia, talvez, contarei o resto…

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Entrevista: Francisco Vaz Fernandes director da revista Parq

Como nasceu a ideia de criar a Parq?
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Nasceu de condições adversas. Basicamente a equipa de trabalho da Parq saiu da Dif, que eu fundei e dirigi durante cinco anos, que ao longo do tempo tornou-se uma experiência negativa porque nos sentimos roubados e enganados. Daí que a equipa que inclui uma rede de colaboradores fiéis tenham querido continuar este projecto original tomando um outro caminho. Já tínhamos um espaço muito próprio na história na área das revistas independentes, estamos a actualizar-nos segundo novas necessidades dos leitores, acreditamos que será mais um marco no nosso percurso.
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Como descreverias o trabalho que desenvolveram até agora, como tem sido concretizar o vosso projecto?
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Preferia dar uma explicação poética que faz sentido para toda a equipa. A Parq é uma revista que procura uma nova luminosidade e leveza que dê sentido às nossas vidas e nos liberte de fardos, para que sejamos cada vez mais nós. Esse é um nós “português” a caminho da nossa essência e da particularidade com que olhamos o mundo. Procurando o nosso lugar no mundo, admitimos numa visão do sul com relações privilegiadas à cultura Ibérica, mediterrânica, africana e brasileira.
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Têm tido feedback por parte dos leitores da Parq?
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Temos bastantes. Ao início bastante dispares. Confesso que nos ajudaram bastante a moldar e consolidar o projecto. Queriam uma revista nova e só tivemos que seguir as suas exigências de forma a estarmos mais perto das suas necessidades.
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Podemos falar numa ideologia Parq, numa Parqology, isto é, em num conjunto de novas ideias com o cunho Parq? Se sim, como se caracteriza essa ideologia?
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Novas ideias não diria, mas provavelmente um perfil de ideias avulsas, ou de ideias de vida que tentamos amarrar para tornar este projecto mais singular. Na verdade queremos falar das nossas vidas e de outras pessoas que são iguais à vida dos nossos leitores. Estamos igualmente preocupados com o nosso futuro e acreditamos que com um pouco de criatividade e motivação vamos chegar a qualquer lado. Entretanto vamo-nos divertindo para aligeirar o peso das nossas vidas. A vida em espaços públicos, nomeadamente parques verdes e troca de ideias parece-nos a combinação perfeita para esta década. É preciso requalificar o espaço público para que seja de todos.
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A Parq divide-se por secções: Real People, You Must, Soundstation, Viewpoint, Central Parq, Moda e Parq Here. O que podemos encontrar em cada uma destas secções?
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São secções que nos ajudam a organizar os conteúdos. Na verdade, procuramos ser uma revista diferente, sem umcerto carácter de ilusionismo. Gostamos de um certo realismo, daí que procuramos uma certa proximidade com os entrevistados. Também procuramos ter textos desenvolvidos com um certo carácter mais social e político. Tudo isso doseado com um pouco de fantasia e humor porque também não nos podemos levar muito a sério.
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Para além do site da Parq, onde podem os leitores encontrar a Parq?
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Temos à volta de 500 pontos de distribuição repartidos por GrandeLisboa, Porto, Coimbra, Aveiro, Leiria, Caldas, Évora. Em Setembro chegamos a Braga, Faro, Lagos.
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Se fosse possível questionar a generalidade dos vossos leitores sobre o vosso trabalho, que perguntas lhes fariam?
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Preferia que nos colocassem questões ou no mínimo que estivéssemos num diálogo mais efectivo. E de certa forma esse diálogo existe, pela quantidade de propostas de colaborações que recebemos. Cada proposta é uma forma diferente de entender o projecto que não responde a uma visão monolítica da coordenação. Apenas criamos balizas mas que dão espaço suficiente para que colaboradores e leitores possam expressar as suas formas de ser.
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Reparei que no editorial da Parq de Junho manifestas o desejo de não seguir modelos estereotipados organizados por interesses comerciais, e afirmas mesmo que de contrário uma revista não pode sobreviver ao desinteresse do leitor. De que modo se pode escapar a esses modelos estereotipados de que falas, que dificuldades antevês que possam advir de não seguir essa linha submetida a interesses económicos?
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Espero não ser mal interpretado. Obviamente, são as questões económicas que acabam por tecer o nosso tecido social em que vivemos. Elas estão sempre presentes. As revistas gratuitas e pagas estão cada vez mais dependentes das receitas das inserções publicitárias que obviamente condicionam os conteúdos. Por isso não seria de estranhar que Corine Roitfeld desabafasse o enjoo que lhe provocam os milhares de malinhas e saquinhos que aparecem na Vogue. É como se o mundo estivesse reduzido a acessórios. Porque se tem que dar cada vez mais do mesmo o público deixade ter qualquer interesse pelo conteúdo das revistas em geral. Se olharmos para uma Vogue francesa dos anos 60 ou 70 percebemos como havia ideais a combater, como cada número eram de facto inovador e surpreendente. Havia colaborações com escritores, intelectuais, o que dava uma outra dimensão social às revistas dessa época.
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Agora que a Parq vai de férias e volta em Setembro cabe desejar-vos umas boas férias e finalizar esta entrevista perguntando que desejos gostarias de ver realizados num futuro próximo no que toca a Parq?
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Que a revista cresça no sentido de formar uma comunidade parq.
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O autor deste blog agradece a disponibilidade de Francisco Vaz Fernandes e a simpatia com que colaborou com Esta Versão dos Factos para a realização desta entrevista.
Agradece ainda a Jorge Lemos Peixoto a permissão para que aqui fossepublicado o seu texto “O Peter Pan traído”.
Por fim congratula todas as pessoas que, num trabalho conjunto, contribuem para que a Parq possa chegar aos seus leitores todos os meses, pelo bom trabalho que têm desenvolvido e desejar felicidades na prossecução deste projecto.

Jazzing, Relaxing and Reading

Hoje acrescentei mais qualquer coisa a este blog, que devagar tem crescendo e ampliado o seu âmbito. Originalmente era apenas o meu laboratório de escrita, ou a minha oficina das letras, um projecto mais virado exclusivamente para mim do que para os outros.
Depois passou a ser um local mais virado para os outros, onde, sem deixar de ser uma versão onde sempre que posso exercito a minha escrita, comecei a colocar as minhas opiniões políticas, as músicas que oiço e que tenho todo o prazer em partilhar convosco, as fotografias que tiro, e umas versões que não lembram ao diabo de tão bizarras que são, além de versões de outros, de versões históricas e de versões biográficas... Enfim, um alargamento de âmbito que me tem agradado...
Há menos tempo disponibilizei gadgets, é assim que se chamam a estas coisas?... que permitem aos leitores deste blog ter sempre disponíveis as notícias actualizadas, o que me deixou bastante satisfeito.
E hoje consegui colocar uma banda sonora neste espaço. Escolhi uma playlist de Jazz, que ao que me parece é o estilo de música que mais tem a ver com estas versões, e que espero que proporcionem aos leitores uma boa passagem por este blog. Espero acrescentar a pouco e pouco muito mais músicas a essa playlist, e que este novo instrumento dê ao leitor, enquanto lê outra descontração.

sábado, 16 de agosto de 2008

Tons que tocam



Intérprete: Rui Veloso

Tema: Nunca me esqueci de ti

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

A actualidade intemporal dos grandes pensadores

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Estou neste momento a ler "O Príncipe" de Maquiavel, e antes de ir devolver umas horas de sono à cama, decidi vir partilhar convosco uma frase que li neste livro, e que apesar de ter saído da pena de Maquiavel, por volta de 1513, me parece ainda aplicavél aos tempos de hoje, e que me obrigou a reflectir um pouco... Espero que em vós tenha o mesmo efeito.
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"Todavia, vai uma tão grande distância entre a forma como se vive e a forma como se deveria viver, que, quem troca o que se faz por aquilo que se deveria fazer acaba por amargar a sua ruína em vez de garantir a sua preservação, porque um homem que em todos os seus actos pretenda fazer profissão da sua bondade acaba arruinado no meio de tantos que nenhuma bondade têm."
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In "O Príncipe"................
de Nicolau Maquiavel

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Malditos sensores

Cabe antes de mais pedir desculpa pela minha ausência, e explicar que se deveu a uma fase de exames, seguida de uma (merecida, penso eu) semana de férias, e férias são férias… Agora estou de volta, o que não significa que todos os dias tenha coisas novas para oferecer, mas que volta e meia aqui colocarei alguma coisa nova. Sei que assim é difícil ter leitores assíduos e fies, o que a minha falta de talento inato também dificulta, mas prometo combater a longo prazo esta minha falta de método, e tentar criar a pouco e pouco uma rotina (só a palavra arrepia-me) de escrita.
Hoje trago uma versão que não lembra ao diabo, muito curta, e que surge como forma de reclamação que apresento a todos os restaurantes e estabelecimentos que, como forma de darem um contributo para a salvação do nosso planeta, dispõem de sensores de movimento nas casas de banho, os quais se encarregam de acender e apagar a luz, poupando desse modo energia que doutra maneira seria gasta desnecessariamente. Pois bem… Cabe dizer que compreendo a louvável pretensão de poupar energia e o ambiente como já referi, mas desconhecem os senhores proprietários desses estabelecimentos a figura de parvo que o cliente faz quando vai urinar e a meio da satisfação das suas necessidades se apaga a luz. Não se trata do incómodo que isto pode causar a alguém que possa ter menos pontaria, mas da reacção inata que nós clientes temos, de a meio da satisfação das nossas necessidades acendermos de novo a luz. Por conseguinte damos connosco a dar ridículos jeitos ao pescoço e à cabeça, que no exposto contexto não fazem sentido mesmo nenhum. Depois, porque o pouco sensível sensor nem sempre respeita pequenos e toscos movimentos da cabeça, damos por nós a urinar e a dizer adeus de costas a um sensor que só apetece apedrejar.
Em face disto só me resta afirmar que sou contra este tipo de mecanismos cujo extermínio me agradaria, e ter pena de quem tem aflições que para serem satisfeitas merecem que uma pessoa se sente e se concentre um pouco, já que vai que não vai, lá têm de cumprimentar o sensor.
Enfim, tenhamos a capacidade de nos rirmos de nós próprios…