quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A vida facilitada de Sócrates

Em ano de eleições, olho com bastante preocupação para o quadro político português. Pelo que consigo prever, nas próximas eleições, face à falta de alternativas, os portugueses voltarão a eleger José Sócrates incumbindo-o de governar o país por mais quatro anos. Porém, desta vez, penso que ninguém estará iludido, e esse voto será no menor dos males. De qualquer modo, resta-me a esperança de que o PS não consiga obter a maioria absoluta que o primeiro-ministro já veio pedir à televisão.
O nosso PM vangloria-se e orgulha-se constantemente do seu desempenho enquanto governante, assim como do trabalho executado pelo seu Governo, reivindicando enormes sucessos e conquistas para o seu Executivo, e assegurando que os portugueses reconhecem e sabem que o país está melhor desde que ele tomou posse.
Apesar de afirmar que neste momento estamos perante uma crise económica bastante grave, que ninguém podia prever, cuja verdadeira dimensão ainda não é perceptível, e que tempos ainda mais difíceis estão para vir, José Sócrates arroga ter capacidades que lhe permitem sentir-se preparado para enfrentar esta crise, e fala do futuro com um optimismo que, segundo me parece, roça a inconsciência.
Quanto a mim, que destas coisas nada sei, apenas sinto, Portugal não está melhor do que quando o primeiro-ministro tomou posse. Penso mesmo que o trabalho deste executivo foi, em muitas áreas, francamente mau, designadamente nas áreas da saúde, da educação, da economia e da segurança interna, e não consigo olhar para o futuro com metade do optimismo de José Sócrates.
Assim, penso que a reeleição do engenheiro se traduzirá na continuação, por mais quatro anos, de egocentrismo, de más políticas, de governação desfasada da realidade, surda e inflexível.
Por isso, não voltarei a votar em José Sócrates, o que me vai permitir ter a consciência mais leve na próxima legislatura, imiscuindo-me de quaisquer responsabilidades nos desígnios do país.
Contudo, reconheço que a escolha será mais difícil para todos aqueles que, como eu, não vão voltar a votar no PS.
Existe uma certa tendência para se votar num partido que seja um potencial vencedor, de modo a ficar-se com a sensação de que o nosso voto foi útil. Porém, o PSD de Manuela Ferreira Leite, é hoje um partido pálido, letárgico, pouco interventivo, apático, sem ideias alternativas, quase mudo e quando a sua líder intervém é para propor (com mais ou menos humor) algo como a suspensão da democracia, defendendo que essa é a única via para por a casa em ordem…
Acresce que o PSD vem perdendo força há já demasiado tempo, devido à manifesta incapacidade de encontrar alguém que esteja à altura de liderar um dos dois maiores partidos portugueses. Luís Filipe Menezes escorraçou Marques Mendes. De seguida, virou-se o feitiço contra o feiticeiro, e não tardou a ser escorraçado da liderança do partido. Sucedeu-lhe Manuela Ferreira Leite, quando lhe podia ter sucedido Pedro Passos Coelho, e quanto a mim, o PSD só teria a ganhar com isso nessa altura. Manuela Ferreira Leite prometeu devolver ao partido a credibilidade, o vigor e a estabilidade que o PSD vinha perdendo, e mostrou-se convicta de que venceria José Sócrates nas próximas legislativas. Na minha óptica, a ex-ministra das finanças não conseguiu até agora cumprir nenhum dos objectivos a que se propôs, e penso que só já mesmo Ferreira Leite ainda acredita que poderá vencer José Sócrates nas próximas eleições. Mas mais… também não acredito que Pedro Santana Lopes possa vencer António Costa em Lisboa, e estas duas derrotas, a verificarem-se, como acredito piamente que se irão verificar, deixarão graves sequelas no PSD.
Isto posto, creio que está formada a conjectura necessária para que se altere o panorama político português. O descontentamento com as políticas empreendidas pelo PS, e a declarada incapacidade do PSD de aparecer como uma séria alternativa ao PS, poderá levar os eleitores a distribuírem melhor os seus votos pelos partidos. Por ventura, este será o momento de tirar a garantia aos dois maiores partidos portugueses de que independentemente do seu bom ou mau desempenho no Governo, apenas um dos dois será eleito para governar o país.
Além disso, penso que tem ficado demonstrado que as maiorias absolutas não permitem uma governação mais segura, mas uma governação com um pulso demasiado forte e demasiado inflexível.
Por minha parte penso que um parlamento mais plural seria benéfico em todos os sentidos, e não um entrave à governação como se tem tentado fazer crer nos últimos anos.
Parece-me fundamental dar um sinal claro ao PS e ao PSD que os eleitores não são seus adeptos, e que eles não são os partidos com mais adeptos. É necessário mostra-lhes que o trabalho destes partidos tem sido sucessivamente decepcionante, e que os cidadãos votam em quem acreditam e não votam sempre na mesma cor.
Ainda assim… tenho sustentadas dúvidas que isto aconteça, e temo que José Sócrates seja eleito com uma nova maioria absoluta. Do que não tenho dúvidas é que vou ficar feliz por terminar o mandato de José Sócrates este ano, e bastante triste quando o engenheiro iniciar o seu segundo mandato.



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