Afonso permaneceu alguns minutos quieto, imóvel, estático, em paz com todas as coisas, olhando fixamente para a sua personagem ainda vazia.
Depois, imaginariamente, disse:
- Serás uma mulher... Uma mulher inteligente e culta. Serás perspicaz... - pensou mais um pouco e continuou.
- Serás discreta... que é uma das características que mais aprecio nas pessoas. E terás uma elegância invejável. E como me parece que fumar é um acto socialmente elegante, e porque me apetece ter companhia para fumar um cigarro, permite-me ser déspota, e determinar que fumarás. - E dito isto, Afonso sentou-se no sofá, retirou dois cigarros do maço de tabaco, um real e um imaginário, e estendeu o cigarro imaginário à sua personagem.
- Fumas?
Depois, imaginariamente, disse:
- Serás uma mulher... Uma mulher inteligente e culta. Serás perspicaz... - pensou mais um pouco e continuou.
- Serás discreta... que é uma das características que mais aprecio nas pessoas. E terás uma elegância invejável. E como me parece que fumar é um acto socialmente elegante, e porque me apetece ter companhia para fumar um cigarro, permite-me ser déspota, e determinar que fumarás. - E dito isto, Afonso sentou-se no sofá, retirou dois cigarros do maço de tabaco, um real e um imaginário, e estendeu o cigarro imaginário à sua personagem.
- Fumas?
- Sim, agradeço. E que mais serei? - Afonso emprestou o seu isqueiro de prata à personagem. Quando esta lho devolveu, viu na transparência uma mão delicada, com dedos finos e compridos e unhas cuidadas, mas não revelou a sua visão à personagem. Acendeu o cigarro, deu um trago profundo, fez um compasso de silêncio para permitir que as ideias voltassem a organizar-se, até que por fim, de olhos fixos no fio de fumo que lhe desfiava o cigarro, respondeu:
- Tenho uma dívida grande com Deus... Vou pagá-la a ti, esperando que o Altíssimo se dê por pago... Terás livre-arbítrio, serás tu a formar a tua personalidade, partindo do que já determinei.
- Isso condiciona-me, o que já determinaste. Mas agradaram-me os traços da minha personalidade que acabaste de desenhar. Ainda assim... Estou também, e sobretudo, condicionada pelo teu livre-arbítrio, pelo que o teu livre-arbítrio me permitir, uma vez que o meu livre-arbítrio pertence ao teu por inteiro.
- Sim, é verdade. - Afonso voltou a deitar-se no sofá, meditando sobre o que a sua personagem lhe tinha acabado de dizer. Deu um último bafo num resto de cigarro, que já se tinha transformado quase por completo em fumo e cinza, apagou-o, e disse resoluto:
- Pois bem!... Serei esquizofrénico... Parece que é pré-requisito para se ser um grande génio. Ciente das minhas comedidas capacidades, não serei esquizofrénico aspirando vir a ser um grande génio, será apenas uma tentativa de te libertar... Ainda que a minha esquizofrenia seja também ela imaginária. Enfim... Quero dizer... Esforçar-me-ei por te libertar.
- Está bem. Esse esforço basta-me. E fisicamente? Como serei? - perguntou a personagem.