
Disse-lhe ao ouvido, enquanto atravessavam o Tejo, na ré de um cacilheiro:
-“Finge que não me conhecias,
Que por acaso na rua me viste
E sem escolha me escolheste
E sem escolha me elegeste
Tua
De entre todas as mulheres.
Finge que ao ver-me os olhos te perdeste
E ao dares-me a mão descobriste que em mim estavas perdido
Mas que em mim estava o caminho
E me disseste:
- Vem. Quero encontrar-me.
Finge que ao ver-me nua
Nu te viste,
E tão tu e exposto te sentiste
Que com a minha pele te cobriste
Que a minha pele vestiste
Sabendo que tua
Era a minha pele.
Finge que me quiseste tanto que impotente te sentiste
Ante um desejo tão profundo e desmedido
Que insaciados ficaram os sentidos,
E que o teu corpo se tornou súplica
Sofreguidão
Fome do meu
....
Finge que sem escolha me escolheste.”*
- Finge que sentes o que em mim despertaste. E desculpa se não são minhas as palavras que te digo. Sempre tive algumas dificuldades de expressão. Precisei destas palavras para te tentar explicar que, por minha incapacidade natural, expresso-me em prosa mas amo-te em verso.