Afonso tinha voltado a deitar-se no sofá. Sentia os olhos pesados e o sono começara a adormecer-lhe o raciocínio. Levantou o braço que pendia para o chão, colocou-o paralelo à cabeça e verificou que já passavam poucos minutos das quatro da madrugada.
- Desculpa… Já são horas de um rapaz da minha idade estar na cama… Imaginar-te-ei amanhã com ideias frescas. – E dito isto levantou-se. A personagem sorriu ao ouvir o eufemismo e respondeu-lhe:
- Então dorme bem “rapaz”.
- Muito obrigado. Dorme no meu sofá, acomoda-te, fica à vontade… Tens cobertores naquele armário disse Afonso apontando para um corredor e caminhando já na direcção oposta para o seu quarto. De caminho desligou a aparelhagem. Depois deitou-se e pensou: a minha imaginação tem brincadeiras engraçadas… Segundos depois dormia.
Na escuridão da sala, tinha ficado deitada no sofá, uma personagem feminina imaginária que se sentia contente por ter conseguido existir enquanto ideia. Não fora apenas um flash, existiu durante um período considerável de tempo. Dialogou com o seu criador, ainda que a conversa, dada a diferente natureza dos intervenientes, tivesse sido imaginária. Ainda assim, sentia-se privilegiada. Afinal, rara é a criatura que tem oportunidade de falar com o seu criador.
Sentia-se também contente por ter-lhe dito o essencial. Que gostaria de ser uma personagem principal de um romance. Agora desejava que Afonso se lembrasse dela no dia seguinte. Sonhava com a capa do romance nas montras das livrarias mais importantes, imaginava a primeira frase em que ela aparecia, e entretanto acabou também por adormecer.
- Desculpa… Já são horas de um rapaz da minha idade estar na cama… Imaginar-te-ei amanhã com ideias frescas. – E dito isto levantou-se. A personagem sorriu ao ouvir o eufemismo e respondeu-lhe:
- Então dorme bem “rapaz”.
- Muito obrigado. Dorme no meu sofá, acomoda-te, fica à vontade… Tens cobertores naquele armário disse Afonso apontando para um corredor e caminhando já na direcção oposta para o seu quarto. De caminho desligou a aparelhagem. Depois deitou-se e pensou: a minha imaginação tem brincadeiras engraçadas… Segundos depois dormia.
Na escuridão da sala, tinha ficado deitada no sofá, uma personagem feminina imaginária que se sentia contente por ter conseguido existir enquanto ideia. Não fora apenas um flash, existiu durante um período considerável de tempo. Dialogou com o seu criador, ainda que a conversa, dada a diferente natureza dos intervenientes, tivesse sido imaginária. Ainda assim, sentia-se privilegiada. Afinal, rara é a criatura que tem oportunidade de falar com o seu criador.
Sentia-se também contente por ter-lhe dito o essencial. Que gostaria de ser uma personagem principal de um romance. Agora desejava que Afonso se lembrasse dela no dia seguinte. Sonhava com a capa do romance nas montras das livrarias mais importantes, imaginava a primeira frase em que ela aparecia, e entretanto acabou também por adormecer.