segunda-feira, 10 de março de 2008

Masterpiece ( Fascículo III )

Afonso tinha voltado a deitar-se no sofá. Sentia os olhos pesados e o sono começara a adormecer-lhe o raciocínio. Levantou o braço que pendia para o chão, colocou-o paralelo à cabeça e verificou que já passavam poucos minutos das quatro da madrugada.
- Desculpa… Já são horas de um rapaz da minha idade estar na cama… Imaginar-te-ei amanhã com ideias frescas. – E dito isto levantou-se. A personagem sorriu ao ouvir o eufemismo e respondeu-lhe:
- Então dorme bem “rapaz”.
- Muito obrigado. Dorme no meu sofá, acomoda-te, fica à vontade… Tens cobertores naquele armário disse Afonso apontando para um corredor e caminhando já na direcção oposta para o seu quarto. De caminho desligou a aparelhagem. Depois deitou-se e pensou: a minha imaginação tem brincadeiras engraçadas… Segundos depois dormia.
Na escuridão da sala, tinha ficado deitada no sofá, uma personagem feminina imaginária que se sentia contente por ter conseguido existir enquanto ideia. Não fora apenas um flash, existiu durante um período considerável de tempo. Dialogou com o seu criador, ainda que a conversa, dada a diferente natureza dos intervenientes, tivesse sido imaginária. Ainda assim, sentia-se privilegiada. Afinal, rara é a criatura que tem oportunidade de falar com o seu criador.
Sentia-se também contente por ter-lhe dito o essencial. Que gostaria de ser uma personagem principal de um romance. Agora desejava que Afonso se lembrasse dela no dia seguinte. Sonhava com a capa do romance nas montras das livrarias mais importantes, imaginava a primeira frase em que ela aparecia, e entretanto acabou também por adormecer.

domingo, 9 de março de 2008

As cores da Ribeira (Porto)


Este pequeno lugar

É bom voltar a este espaço, este género de templo próprio, que comecei a construir, que abandonei para me tentar, em vão, desprender de todas as coisas, e que cheguei a pensar que era um dos meus vários projectos que ficaram por cumprir para mais tarde poder pensar: “talvez pudesse ter feito daquilo qualquer coisa de especial…”. Hoje quando abri a porta (com um “www”), e entrei, olhei à volta e vi tudo intacto, reconheci o meu espaço, reconheci a minha marca, o (ainda pouco, mas suficiente) “eu” que pus neste espaço. Vi mais, vi uma pequena parte de fases que passei, e de coisas que imaginei e escrevi, às quais tentei puxar algum lustre para ficarem apresentáveis para o caso hipotético de aparecer um leitor perdido.
E… deu-me uma certa sensação de regresso a casa, aquela sensação que sentimos quando nos deitamos no nosso sofá quando regressamos de uma viagem mais, ou menos longa. E logo de seguida, pensei que esta casa ainda tinha pouco recheio, e que devo continuar a decorá-la com coisas que me façam sentir cada vez melhor aqui.
Entretanto algumas coisas mudaram… Entretanto mudei eu, e disso espero que se dê conta no que escrever…
Cumpri a promessa de dar uma escapadinha, fugi, aliás, duas vezes, uma sozinho, a outra com uma excelente companhia, e fui até ao Porto, onde fui sempre muito bem recebido, e aproveito para agradecer a estadia mais uma vez.
Não conhecia muito da cidade invicta, e mesmo agora só conheço o suficiente para me fazer voltar qualquer dia.
De qualquer modo… Fez-me bem andar um pouco distante de tudo por uns tempos.
Agora estou com saudades de estar aqui…